O objetivo da propaganda é fixar o nome do candidato e para isso ele se vale de recursos que facilitam a memorização, no caso, a rima “ica” e uma frase feita popular que condensa um sentimento de revolta à situação política e que dá origem ao voto de protesto, como foi o voto ao Cacareco, um popular rinoceronte do zoológico de São Paulo. Também apela para o humor, que é um recurso muito usado tanto para desmascarar e denunciar uma situação como para ajudar a enfrentar a dureza do cotidiano, rindo da própria desgraça. No entanto, essa visão pode ser muito perigosa porque uma situação ruim pode ficar ainda pior. Sofremos na pele por quatro anos os desmandos tresloucados de Jânio em São Paulo, um político populista que sabia manipular o povo. Jânio disputou com Fernando Henrique Cardoso, do mesmo partido de Mario Covas, e FHC estava tão certo da vitória que tirou uma foto sentado na cadeira do prefeito. Entretanto, no debate eleitoral, Boris Casoy jogou uma casca de banana perguntando a FHC se ele era ateu. E assim FHC foi derrotado e humilhado, pois ao assumir, num gesto teatral e perante as câmeras, Jânio desinfetou a cadeira em que FHC havia sentado. Durante o seu governo tentou destruir quase tudo que fora feito no governo de Covas e que representava um avanço político. Assim, mandou recolher e queimar os guias curriculares que orientavam a ação das escolas municipais e que havia sido construído coletivamente com a participação de pais, professores e o corpo técnico da Secretaria de Educação. Também anulou as normas que garantiam os Conselhos e o Regimento Comum das Escolas Municipais e mandou recolher vários livros enviados às bibliotecas escolares, entre os quais a Enciclopédia Retratos do Brasil, ameaçando de punição as escolas que não devolvessem. Quando as escolas pararam lutando por melhores salários, foi para a Europa e não negociou, exigindo que os funcionários retornassem ao trabalho antes do seu retorno. Todos os funcionários que permaneceram em greve depois que ele retornou, foram enquadrados em inquéritos administrativos. Era tão grande o número de funcionários enquadrados que o diário oficial do município precisou aumentar o número de folhas. Os diretores de escola que não encaminharam as listas de funcionários em greve, mesmo que eles próprios não tenham participado, foram arbitrariamente punidos. Um diretor que era da zona sul foi transferido para a zona norte e, quem era da zona norte foi para a zona sul, gastando mais de três horas para se deslocar de sua moradia para o trabalho. Também houve escolas em que todos os funcionários foram suspensos e os alunos ficaram mais quinze dias sem aulas. Para mim, e acredito que para muitos funcionários, foi um período muito difícil de viver e de muita insegurança pela ameaça de perder o emprego e de ter que comparecer várias vezes perante às comissões processantes. Dentro das escolas havia um clima muito tenso entre os funcionários e a direção e até mesmo entre os próprios funcionários devido ao receio de delação. A situação só se normalizou com a eleição da Erundina pois logo após a sua posse, assinou cinco decretos, entre os quais a anistia aos funcionários e a retomada das propostas educacionais desenvolvidas no governo de Covas. A essa ação pacificadora da Erundina e as várias ações em benefício da periferia é que garantem a ela o respeito, o amor e o carinho que muitas pessoas devotam a ela até hoje. Se entre o governo de Covas e de Erundina não tivesse havido o Jânio, com toda a certeza o município de São Paulo teria ganhado muito. Aqui em Ubatuba, muita gente pensava que não podia ficar pior do que a administração de Paulo Ramos. Será?
Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor da rede pública de ensino desde 1971. Assessor e militante de Educação Popular.
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