Conversa (des)afinada
Mais uma história com vocação para enigma indecifrável. Os dados fiscais do vice do PSDB abandonaram seu casulo legal e saíram voando por aí. Vazaram qual vulgar poço da BP. Erro administrativo, desvio de conduta, alopração? Paul, o cefalópode da moda, já sabe; não é o único a ter a resposta, mas esse papo de ‘todos queremos saber’ já é exagero. Dizem os Cartaxo-boys, aliás foi Cartaxo himself quem informou que houve múltiplos estupros/acessos. Cinco ou seis, foi dito, como se fosse sobrenatural contar corretamente até roku (em japonês). Obviamente o sistema da Receita tem essa informação, no entanto aos mortais comuns foi deixada uma única pista: a analista Antônia. Ser o único nome apresentado não a transforma em culpada (única). Pode ser que a moça, ao chegar por último, serviu apenas para encobrir acesso "motivado" de algum superior. É fácil verificar se ela tinha por hábito pescar nessas águas límpidas ou se o fez num momento de tédio. Embora isso dificilmente irá constar do currículo da senhora A. é algo de comprovação instantânea – como o antigo Nescau. Era uma bisbilhoteira compulsiva, uma alcoviteira focada, ou tudo não passa de intriga para puni-la? Ela não se lembra do fato. Será ela uma inocente desmemoriada, ou de tanto ver declarações ela chegou a não se lembrar justamente dessa? Continuando o devaneio, como no caso do vice Alencar e o flerte alçado à categoria de relacionamento com moça de vida fácil(?), o filho (vazamento – em ambos os casos houve vazamentos em graus distintos) pode ter sido fruto de contatos eventuais – da funcionária ou de algum outro ’elemento’ de mais alto coturno. Eis uma vantagem do regime comunista – ninguém tem coisa alguma para sonegar (melhor dizendo, quem tem, jamais será importunado). Não é nosso caso, nem queremos isso. A senhora A., funcionária exemplar e os demais curiosos – ou motivados por rotinas – estiveram, em algum momento de posse de um segredo que vazou. Quem foi o mordomo da história? Entendo que a revelação só pode vir dos autores da inocente traquinagem – breve pausa para uma risada – já que o jornalista preservará a fonte – mesmo porque, além de ética, tem amor à vida (dele). Tampouco acredito na possibilidade de papéis abandonados (propositalmente ou por desleixo) sobre uma mesa. Aí o lobo mau passou e divulgou. Pode ser que o terminal tenha ficado abandonado – “vou até o banheiro, quem quiser olhar aproveite!”. Alguém acredita nisso? É possível que esse aborto tenha mais de um genitor, why not? (é hora de demonstrar meu domínio do inglês). Imaginemos, que o padrão das informações vazadas esteja acima do nível de indiscrição permitido a uma analista. Então, diz Acácio – o conselheiro – se as informações vão além do poder da senha, ela não pode ter violado por diletantismo. Vai que o chefe perguntou. É Jorge ou George? Momento, boss, let me check!, pera, minha senha não alcança. Não faz mal, sin problema, hija, use a minha. E assim, a moça se vê no mais fundo adubo, por obra de uma conjuntura astral adversa. Mas caramba – exclamo eu – é comum haver 5 (ou 6) visitas à vida de um cidadão? Lembre-se, Clotilde, que as declarações são checadas e há mecanismos lógicos que conseguem levantar o leporídeo em caso de fraude. Daí, malha fina, filtros euclidianos (acabei de inventar) etc. Daí, sim, vamos ver. E vamos ver uma, duas, três, quatro, cinco...n vezes. São os acessos motivados. ...Não sobra mais tempo nem para comentar o jogo do Corinthians. O que me parece mais preocupante é o fato de – POSSIVELMENTE, insisto no possivelmente – não se tratar de invasão solitária/ocasional aos dados de alguém. Mesmo porque EJ já foi arquidenunciado e superpentefinado pelo tal Luis Francisco – aquele procurador com cara de cruzamento de Adonis com Drácula. O que fazia naquele mato a analista A, ou aquele que usou sua senha? Nada entendo de senha, mas seguramente não era 12345 e muito provavelmente deveria haver um cartão de acesso, uma certificação digital, ou algo parecido como medida adicional de segurança. Ou seja, permanece uma dúvida: trata-se de mau-hábito ou de infeliz exceção! Se prevalecer a primeira hipótese, vamos voltar à leitura do ultrapassado(?) 1984 de Orwell.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
|