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COLUNISTA
Alexandru Solomon
30/05/2010 - 13h01
Sopa de letrinhas
 
 

Você já pensou? Com exatamente as mesmas letras você escreve ALEGRIA e também ALERGIA. Como a alegria de se coçar ainda não foi identificada como tal, melhor seria evitar a dislexia. Que podem fazer umas consoantes, que nem som próprio possuem? Perguntem ao farmacêutico que não conseguiu vender a pomada antialérgica.

Com certeza, ao escrever Roma, já lhe ocorreu ler de trás para frente e encontrou Amor, como tantos poetas que se derreteram falando na Cidade Eterna. É um bom assunto para se pensar sentado perto do Palazzo Pamphilli, sede majestosa de uma das embaixadas brasileiras em Roma. Filólogos competentes afirmam que ler de trás para frente Itaquaquecetuba não nos levaria ao mesmo resultado.

Então, alguns símbolos alteram tudo? Sem sombra de dúvida, leitor curioso! Está diante de uma crônica e crônico pode ter sido agudo um dia.

Quando, apaixonado, o garoto pergunta à namorada se quer acampar com ele, e o faz num bilhete, durante a aula, o que deve pensar se a resposta for “Não sou séria!”.

Será que ela quis dizer “Não, sou séria”. Ou então teria sido uma confissão encorajadora?

Da colocação de uma virgula, mantidas as palavras poderá resultar um fim de semana catastrófico ou delirante. Pois é, diria a menina, um bilhete da minha lavra causa esse rebuliço? Seguramente o rapaz não responderia fazendo alusão à larva. Para um cobra a questão nem teria sentido.

“Oh, trem bão!”, pensaria o rapaz, sempre otimista, sem ter a menor intenção de embarcar no Orient Express.

O pivô da crise potencial foi um bilhete escrito às pressas.

Há coisas que podemos pensar e não devemos falar, há coisas que podemos falar, mas não devemos escrever. Sem contar que muitas vezes o melhor é não pensar.

Pensamento não tem vírgula, portanto nada de preocupações. Falando, conseguimos transmitir nuances que jamais seriam retratadas na comunicação escrita. Desde quando uma impressora a laser supera Antônio Fagundes? Ela tem suas vantagens: pesa menos e não possui barba. Talvez seja uma jogada de marketing da Gillette. Algumas rebarbas de um texto rebarbativo causam mesmo confusão, em função da espessura semântica.

O perigo maior reside na comunicação escrita. No passado, uma carta da Coroa Portuguesa para Sua Santidade, o Papa, levava vários cavalos/dia. Hoje fala-se muito em homem/hora; para aquela época o cavalo/dia parece uma boa unidade.

E hoje, também, uma coroa portuguesa pode escrever, ou entrar num bate-papo na Internet, e lá a unidade de medida mais adequada seria o homem/tecla, unidade de meia pataca. Pataca... que saudades... Alguém lembra ter ouvido falar em ataque especulativo contra a pataca? Fazer um hedge em maravedi... que delícia. Estamos nos desgarrando! O assunto era a coroa. Assunto real.

Problemas costumam ocorrer, quando a veia poética da véia não comove, ou por alguma fatalidade surte o efeito oposto. Para ser franco, a véia pode constituir um marco na vida do lar, toda vez que a lira dela acompanha os deuses. Não há escudo que nos proteja. Por essa razão fala-se tanto em moeda européia única.

Não há outra razão melhor para prestigiar a comunicação falada. Surgiu o famoso gesto de colocar a mão ao lado do rosto, afastando ao máximo o polegar do dedo mínimo. Parece que a idéia teria sido de Graham Bell, embora meninos russos encontrem, em seus manuais escolares, ter sido tudo obra Alexandr Popov. Nenhum dos dois conhecia a moça bonita que manda fazer um 21, no máximo eles faziam um quatro aí.

Trair e coçar é só começar, mas será que o autor não quis dizer que trair e caçar é só começar? Isso mesmo: sair à caça de aventuras. Portanto o A posto no seu lugar influi. Aposto que o aposto pode influenciar, e muito, apesar de haver quem aposte no oposto.

Normalmente, é nesta situação que a musa resolve virar a mesa. E em se tratando de mesa imponente, como a Távola Redonda, a musa há de solicitar ajuda a algum herói, Hércules, desde que não seja a fábrica de talheres, Ajax, desde que não seja detergente, ou Aquiles se ele estiver com o tendão em ordem (com exame de ressonância e tudo), sem garantia de sucesso.

Sem dúvida, as vogais têm o seu papel, ao estabelecer confusões ou agradáveis trocadilhos.

“Atriz atroz, atrás há três”, teria dito certa feita Emílio de Menezes.

Mas vogais ou consoantes têm vida, têm corpo e, sobretudo, possuem pé. Por esse motivo, o pé da letra é tão citado. É possível que se trate de uma tentativa frustrada de diferenciar as letras das montanhas, que, a exemplo do Saci, possuem um sopé.

Antes de existir Sacis, apareceu Adão, sabe Deus como.

Até hoje não ficou claro se ele tinha ou não umbigo. Um bigo. Com certeza, não tinha dois bigos. No máximo, teria tido duas bigas. Parece ser uma dúvida prussiana, decorrente da mania de falar, o mesa, o biga, o cadeira...

As cadeiras, bem sabemos, são peças de mobiliário que precisam ser quebradas e ter a quebra confirmada, por isso as mulatas costumam requebrar as cadeiras, achando pouco uma única quebra. Trata-se de um ato de violência inútil. Que mal fez a cadeira? Quebrar um banco, isso sim, acham alguns espíritos mais acesos, ou administradores incompetentes. Mas aí se trata de feitos de Marka.

Pior que isso, há quem bata carteiras. Carteiras inocentes. Não há mais respeito pelos direitos humanos das carteiras. E não é só nas escolas que ocorre essa batida.

E quando a carteira for batida no meio de um Picnic, há quem pense que O vento levou, fica no Suplício de uma saudade, debruçado numa Janela indiscreta a ver navios, murmurando E la nave va, ou olhando Pássaros, durante 66 dias, ou Nove semanas e meia de amor. Poucos se lembram que bastariam mais duas semanas para se ter A volta ao mundo em 80 dias. Terminado o período, subsistiria O suplício de uma saudade, o olhar refletindo o Candelabro Italiano.

Os Pássaros, por sua vez, sempre irão perguntar-se “Por que diabo há Um estranho no ninho?”, concluindo que aquilo pode acontecer somente quando O pecado mora ao lado. Seria um caso de Amor sublime amor que só seria revelado Se meu apartamento falasse, e, ainda, desde que freqüentado pela Bela da tarde, ostentando todo aquele Charme discreto da burguesia. E que charme! Mesmo quando premida pela crise de imóveis, soube dançar o Último tango em Paris, como naquele comercial de margarina.

Esses eventos foram consignados em algumas Relações perigosas. Existe a Lista de Schindler e as listas alternativas de Otis e de Atlas.

Houve outras listas, mas foram levadas por Ladrões de bicicletas que, longe de desfrutar a Doce vida em Roma cidade aberta, tinham que se dispersar, quase sempre com os dizeres: Tudo bem no ano que vem. Pobres ladrões, desempregados ou ganhando o Salário do medo, para atravessar A ponte sobre o Rio Kwai. Lugar muito perigoso aquele, sem nenhuma segurança, sem fiscais do trabalho. Muitos fotógrafos conseguiram O retrato em preto de Um corpo que cai cedido ao Sindicato de ladrões lá, bem ao lado da Central do Brasil. Concluir que Assim caminha a humanidade? É uma verdadeira Psicose!

Isto não tem mais conserto... ou será concerto? Talvez quando derreterem As neves do Kilimandjaro. Aí sim, será possível caminhar descalço no parque.

Segundo outros, até lá saberemos distinguir imoralidade de imortalidade.

Crônica do livro “Apetite Famélico”, Ed. Totalidade. Disponível na Livraria Pega-sonho – rua Martinico Prado, n° 372 - São Paulo – Fone: (11) 3668-2107.


Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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