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COLUNISTA
Alexandru Solomon
30/03/2010 - 09h06
Mamãe, eu não sou neoliberal!
 
 
Conversa (des)afinada

Demonizar não é tão difícil quanto possa parecer. Depois que o jogador Gerson, o canhotinha de ouro da Copa de 70, num comercial dos cigarros Vila Rica, sentenciou: O importante é levar vantagem em tudo, certo?, aquela sentença virou, além de slogan de sucesso na tal campanha de há muito esquecida, o paradigma da safadeza. Pobre Gerson. Ninguém, ou muito poucos se recordam de ter sido ele autor de magníficos lançamentos, ou do gol que desempatou a final Brasil x Itália em 70. O publicitário valeu-se do cacoete do jogador que consistia em falar “certo” a cada meia-dúzia de palavras e, involuntariamente, possibilitou o surgimento de uma generalização infamante. A memória coletiva apagou a biografia do jogador e deixou apenas a identificação da malandragem com uma suposta “lei de Gerson”, como veio a ser conhecida. A simples menção da lei joga fumantes e não fumantes na vala da ignomínia.

A menção oculta a intenção inicial, resultando uma expressão com vida própria. Por definição, os “ishperrrtos” seguem a tal lei. Fim de conversa. Aludir a uma pessoa como aplicador da lei de Gerson é o mesmo que chamá-la, na melhor e mais indulgente das hipóteses, de aproveitador.

Portanto, deturpou-se o sentido inicial da propaganda, abominou-se com razão a tentativa de levar vantagem em tudo e uma vez que o jogador proferiu a frase infeliz, o conceito de desonestidade ganhou um sinônimo, colado ao autor da sentença. De acordo com o autor Jean Sevilla no seu livro “Terrorismo intelectual”, essa é uma técnica, que por ser universal, é usada abusivamente por essas bandas também. Concentram-se virtudes negativas, abomináveis, execráveis etc. e elas são associadas a um rótulo, que logo a seguir passa a ser usado como estigma, já descolado da sua origem. Há diversos exemplos, cujas origens são diferentes, mas o mecanismo não é muito diferente.

Privatistas, entreguistas, alienados politicamente, burgueses etc. são indivíduos de altíssima periculosidade a serem colocados urgentemente no paredón ideológico!

O processo que deu origem a essas marcas conspurcadoras difere conforme o caso, mas o resultado é o mesmo. Evaporou-se a causa, sobrou o insulto.

Não é muito diferente do que se fez com o tal “Consenso de Washington”. Inicialmente, era um decálogo formulado em novembro de 1989 por economistas de instituições financeiras baseadas em Washington D.C., como o FMI, o Banco Mundial e o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, fundamentado num texto do economista John Williamson, do International Institute for Economy, e que se tornou a política oficial do FMI em 1990, quando passou a ser “receitado” para promover o “ajustamento macroeconômico” dos países em desenvolvimento que passavam por dificuldades, informa a Wikipédia. As medidas, isoladamente, não representavam absurdos inomináveis. Eram elas:

· Disciplina fiscal

· Redução dos gastos públicos

· Reforma tributária

· Juros de mercado

· Câmbio de mercado

· Abertura comercial

· Investimento estrangeiro direto, com eliminação de restrições

· Privatização das estatais

· Desregulamentação (afrouxamento das leis econômicas e trabalhistas)

· Direito à propriedade intelectual

O FMI cometeu seus trágicos enganos, o receituário mostrou ter falhas terríveis, mas hoje, poucos são aqueles capazes de citar metade das tais medidas. Muito mais cômodo era gritar Fora FMI! Sobraram duas abominações: Consenso de Washington, reforçado pelo antiamericanismo tão em voga sob diversas latitudes – se fosse ainda o consenso de Bratislava, vá lá, mas de Washington, nunca, never, jamais! – e neoliberalismo, do qual o tal Consenso teria sido a conceituação teórica.

Pronto. Aludir ao Consenso, sem apor-lhe uma marca ultrajante, sem cuspir cada palavra com desdém, é marca de antipatriotismo no seu estágio mais agressivo. Quanto a neoliberal, diferente de neobobo – como já disse alguém – é um indivíduo a ser execrado por ser um inimigo da classe trabalhadora. Malditos neoliberais! Liberais, a rigor, podem ser tolerados. Aos neo, o sambenito e a vaia ensurdecedora!


Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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