Conversa (des)afinada
Por falta de inspiração, tomei emprestado o título de um livrinho publicado no início da década de 70. Espero que o autor tenha conseguido, nas suas operações, o sucesso cujo segredo resolvera compartilhar com seus leitores. Vivemos sob o signo do “agora o jogo é outro”, mais uma bobagem com que se vendem receitas infalíveis de fortunas ao alcance do comum dos mortais. Nada mais simples do que entender as peculiaridades desse agitado início de século, para, em seguida, passar no caixa e contabilizar os lucros, desde que seja respeitado o receituário dos mágicos do momento. “O momento exige cautela”, “A aversão ao risco tornou os investidores ariscos”, “Os estrangeiros debandam”, “Os estrangeiros acorrem”, e por aí vai. Seria estranho se cada momento não possuísse suas peculiaridades. Subprime, marolinhas, explosão da dívida dos PIIGS – Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha agitam as bolsas. Como pedir ao comum dos mortais saber se estamos diante de uma recuperação em V, diante de um duplo mergulho (Double dip), um temível W, ou quem sabe, em homenagem à Internet, um WWW capaz de lotar os manicômios? Vale a pena deixar-se embalar por mantras do tipo: “Aplicações judiciosas tenderão a premiar o investidor paciente”? Que o digam aqueles que compraram ações da Cobrasma! Isso para citar apenas um exemplo. Por onde andam as Nordon, Farol, Banco Econômico, para citar alguns outros. Vamos desistir? Se viraram pó, ou quase, vai ver que as aplicações não eram tão judiciosas assim! Fato é que o fim do mundo parece não ter acontecido. Depois do sismo de 2008/9, entre mortos e feridos, salvaram-se alguns. Como sempre, “os patos” compraram na alta e, apavorados, venderam na baixa. Os arqueólogos encontraram fortunas debaixo dos escombros e... La nave vá. Há motivos para preocupação? Naturalmente. Os PIIGS preocupam, embora suas dívidas não tenham se acumulado na semana que passou. A economia americana debate-se no meio de TARPs e outras medidas heróicas. A União Européia contempla seu brasão chamuscado e tudo isso, num mundo globalizado, afeta a economia e por tabela a bolsa brasileira, que além disso, depara-se com problemas gerados internamente. Não é o caso de repisar o problema do “custo Brasil”, dos desequilíbrios – garantem-nos que está tudo sob controle, mas até quando? – e dos movimentos especulativos graças aos quais temos a ParanapanemaX – ato falho, queiram desculpar – do novo milênio. Não está na hora, nunca está, de retirar as barbas do molho, mas mal algum disso advirá, desde que... Pois é... Quereis uma preocupação adicional, vós que intrepidamente vos aventurastes nessa areia movediça? Basta lembrar que o tal refúgio seguro para o qual convergem os investidores a cada espirro dos mercados, o sacrossanto dólar, se olhado com cuidado, pode não passar de um colossal subprime com seu rating AAA, diga o senhor Tim Geithner o que quiser. Mas se a alma não for pequena e a conta bancária tampouco, vale a pena arriscar. Arriscar não significa pular do topo de um edifício com um guarda-chuva, desempenhando papel de paraquedas. O corretor, assessor de investimentos, conselheiro e outros profissionais são seres humanos falíveis. Os comentaristas econômicos não são uma versão moderna do oráculo de Delfos. Os grafistas – sem querer ofender – sem serem os alquimistas dessa era conturbada, apanham como os demais entre os topos simples, duplos, suportes, resistências e outros ombro-cabeça-ombro. A resistência de hoje pode virar o suporte de amanhã ou vice-versa. No início de 2010, para não voltar novamente à era de pedra – da qual provenho, em termos de investimentos – falava-se em IBOVESPA atingindo 85.000 pontos em questão de semanas (a propósito, quantas?). Menos de um mês depois, lia-se que o índice estava furando o nível de 65.000 pontos o que o levaria, no mínimo ao segundo subsolo. Em quem deverá acreditar o investidor? Não pretendo advogar em causa própria, mas é impossível deixar de comentar um caso que conheço tão bem, o meu. Após uma dissertação de mestrado a respeito da diversificação de carteiras de ações, com todos os Lintners, Fama, Sharpe e Markowitz passados em revista, cheguei à conclusão que o melhor é seguir a natureza e inspirado na anatomia, deixar todos os ovos no mesmo cesto. Aqueles que me conhecem até sabem qual ação coleciono. Se bem que tenho um pouco de Itaú também.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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