Conversa (des)afinada
Os comentaristas do mercado de ações têm uma tarefa ingrata. Podemos ler coisas do tipo: A bolsa subiu vigorosamente, com os investidores animados pelas perspectivas de um vigoroso crescimento econômico, deixando antever um grande potencial de ganho para as ações, que, assim estariam baratas. Ou então: A bolsa operou em queda acentuada, com os investidores desanimados pelas perspectivas de um vigoroso crescimento econômico, que obrigaria as autoridades monetárias a promover um aumento da taxa de juros mais cedo do que se esperava. Com isso, as ações estariam caras. Ou seja, a bolsa cai quando cai, sobe quando sobe e permanece estável nos demais casos. Brilhante! Naturalmente, quando a mesma causa produz efeitos opostos, resta admitir que as coisas não são tão simples assim. Se de repente, descobre-se que um ou mais países da Comunidade Européia estão quebrados, ou quase, a perspectiva do desmoronamento do castelo de cartas, com reações em cadeia, aparece como nova variável explicativa do sobe-desce. É de se esperar que esse fenômeno possa ser comentado assim: A Bolsa iniciou um processo de baixa devido aos reflexos prováveis da desestabilização das economias de um ou mais países (Grécia e Itália, por enquanto). Considerando o impacto na economia global, os fundamentos passam a inspirar preocupação, incentivando a aversão ao risco do investidor global. Ou então: A Bolsa iniciou um processo de alta já que os reflexos prováveis da desestabilização das economias de um ou mais países (Grécia e Itália, por enquanto) terão um limitado impacto na economia global. Os fundamentos de nossa economia continuam a inspirar otimismo, incentivando o apetite pelo risco do investidor global, indiferente a eventuais marolinhas. Ou seja, a bolsa cai quando cai, sobe quando sobe e permanece estável nos demais casos. Elementar!
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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