Conversa (des)afinada
Se bem que nos dizeres do Nosso Guia, as imagens não falem por si - afirmação cujo conteúdo metafísico há de escapar, tanto à plebe rude e ignara quanto às zelites reacionárias e golpistas, há "tênues" elementos para alguma reflexão. Não há como evitar um profundo sentimento de pena para ’nosotros’, dóceis ovelhas tungadas por aquelas insólitas transferência de dinheiro em pleno século XXI, era das transferências eletrônicas de fundos. Por qual insondável mistério optaram os protagonistas daquelas sequências cinematográficas por enriquecer a ampla gama de opções para o transporte de valores, utilizando para esse mister bolsos, cuecas e meias, quando meras pastas de executivo - afinal estavam nos executando - teriam bastado? Por outro lado, sobra um sentimento de compaixão para os raros políticos honestos. Seguramente os há, e nesse momento compartilham injustamente do opróbrio dirigido àqueles que chafurdaram na lama da desonra. Finalmente, uma pergunta algo ousada. O cinegrafista, beneficiário da delação premiada exercitava seus dotes artísticos na desafiadora área da sétima arte, chegando mesmo a protagonizar algumas cenas. O que justificou essa espera de anos para que essa, provável falcatrua fosse neutralizada, dando cabo à essa ignomínia? Por falta de provas acachapantes? Seria de todo desejável que se demonstrasse a inocência dos envolvidos, mas, francamente, alguém acredita nessa hipótese?
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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