Da largada à chegada o desafio de ir além
| Divulgação | | | | A Maratona de Nova Iorque 2009 de Alexandru Solomon. |
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Tive o prazer de participar da maratona de Nova Iorque. Apesar de ser a 19ª vez que cumpro essa prazerosa ’tarefa’, ela é sempre motivo de alegrias imprevisíveis. Como já disse repetidas vezes, um cidadão respeitável – acho que o sou – não corre para ganhar. Seria muita pretensão. Com o passar dos anos, melhorar sua marca pessoal torna-se cada vez mais improvável. Então? Ora, é muito gratificante fazer parte da festa, sentir o apoio daquela massa de torcedores que lá estão gritando palavras amigas, transmitindo a tal energia positiva, tão necessária. Não pretendo ser original ao afirmar ser essa maratona ÚNICA. Desde o ano passado, a organização procurou resolver o problema da largada super-aglomerada. Os corredores largam em ’ondas’. Assim, a primeira largou às 9h40, a segunda, às 10h e a terceira, às 10h20. Leitor de Alvin Tofler, larguei na Terceira Onda – com o perdão do trocadilho. De fato, a largada foi mais tranquila, embora em nenhuma edição anterior, eu tenha tido motivo de reclamação. O principal inconveniente é passar debaixo do cronômetro que encima o arco da chegada e sair ’mal’ na foto. Para os ’terceirondistas’ há o acréscimo óbvio de 40 minutos... Como os corredores correm com um ’chip’ – isso já é uma constante em qualquer corrida de rua que se preze – o que vale é o tempo líquido. Mas vá explicar que correu em menos de 5 horas se o relógio aponta 5h41minutos! Para efeito estatístico, concluí a prova em 4h58min12 segundos atrás de mais de 30.000 outros, mas, ainda assim ultrapassei alguns milhares. Isso sem contar que melhorei minha marca do ano anterior em 1min45 segundos! A nota engraçada ocorreu antes da largada. Até este ano a imensa maioria dos corredores alojada em Manhattan pegava um ônibus em frente a Biblioteca da 5ª avenida – uma operação que envolve centenas de ônibus – e assim chegavam à concentração em Statten Island, e onde percorreriam os 42 km 195 m para chegar em Manhattan, não muito longe do ponto de partida. Peço aos engraçados dispostos a perguntar "pra que fazer tanta força se é para chegar tão perto de onde saiu", que se abstenham. Este ano inovaram. Alguns deveriam pegar o ferry na extremidade sul de Manhattan. No meu número de peito constava "ferry". Como toda novidade, essa gerou-me um stress. Acharia um táxi – bobagem, claro – mas era uma preocupação adicional. A solução veio de maneira inusitada. Sabia que no hotel havia uma delegação enorme de espanhóis que sairia em ônibus próprio. Resolvi tentar a ’suerte’. Cheguei junto à pessoa que gritava mais alto, empunhando uma lista e perguntei se, pagando ’por supuesto’, não poderiam me levar. Se houver lugar, com certeza, disse-me. Eis que chega um bus. Encheu em menos tempo que levei para teclar este fato. Que azar! Espere, disse-me a fada autoritária, "Hay un otro" Chegou o "otro" e, aparentemente, encheu. Hay una vaga! "El", gritou a doce tirana. E assim embarquei, em meio a um mar de agasalhos vermelhos – a cor da Fúria e também desses corredores. "Pour la petite histoire", como dizem os patrícios de Gaulle, – ou à guisa de nota de rodapé – Ingrid me contou que uns 5 minutos após termos ’zarpado’, chegou um ’agasalho vermelho’ dentro do qual, um retardatário constatou seu azar. Não tenho dúvida de que ele tenha se virado para alcançar a largada.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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