| Divulgação | | | | V Hip Hop da Paz – Câmara Municipal de Ubatuba. |
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Na abertura do V Hip Hop da Paz, o semblante das pessoas que acompanham o movimento desde 2005 era de muita emoção por ver que a expansão não é somente em quantidade mas em profundidade e qualidade; que o movimento aponta um rumo de aproximação e de diálogo entre diferentes classes sociais, ainda que às vezes muito tenso. Na platéia, todas as cores e todas a idéias, e como não dava para fazer um círculo, fizemos um grande quadrado de maneira que todos se viam pela frente, olho no olho. Na fala do Bob, a liderança mais visível do movimento, fazendo uma retrospectiva do início, a constatação de que “sem organização não vamos a lugar nenhum”. A mãe do Evandro, de mãos dadas com o filho, diz: “O jovem quando perde a esperança não vai ser bonzinho. O movimento acende essa esperança.” Desde que o filho viu uma apresentação do movimento sentiu que queria fazer o mesmo. Hoje é um menino mais tranqüilo que sabe o que quer – fazer uma faculdade de música. Um dado interessante é que a primeira atração é pelo movimento, pela dança e pela contestação, necessidade de por para fora toda a insatisfação e toda a revolta por tudo que lhes é negado. Principalmente os que se voltam para o rap, mais tarde vêem, sentem cada vez mais a necessidade de ler e de estudar. Quando visitamos suas casas, é muito comum encontrar uma pequena biblioteca com seus primeiros livros e os prediletos. É a tomada de consciência da importância do conhecimento e da cultura. Muitos educadores, entre os quais Paulo Freire, pregam a importância da educação, não só transmitir mas criar espaços para a elaboração do conhecimento e da construção de um projeto de vida. O que deu para perceber é que esses jovens que participam do movimento tem um projeto de vida que lhes dá força para lutar contra as adversidades. Como exemplo dessas dificuldades, foi citado o fato de que o piso de um dos lugares onde eram feitas as oficinas ser de cimento áspero, que impede os giros próprios do breique; que há jovens que não tem tênis para usar nas apresentações públicas e, muitas vezes se apresentam com solas furadas e as roupas do cotidiano. “Eu era um moleque. Hoje tenho um objetivo. Vou cantar, vou rimar, vou procurar notícia pro meu blog” diz Mini-D mostrando e tentando vender um CD com músicas de sua produção. Na fala dele se percebe um outro elemento sempre presente que é a necessidade de organizar e divulgar informações, propostas e a própria produção artística. Segundo o Luís “Paloma”, psicólogo do CAPS – Centro de Atenção Psicossocial – e membro da Ong Nova Mente que busca dar apoio a pessoas com transtornos mentais, um dos pontos básicos para o equilíbrio da pessoa é a identificação cultural. Uma das meninas da Escola Cooperativa confirmou que venceu a depressão quando conheceu e começou a se dedicar à produção de rap. O Hip Hop é um caminho para facilitar o tratamento porque consegue que o jovem se expresse e seja ouvido, e sendo um trabalho de grupo, fortalece as relações de solidariedade e de afetividade. Contribui para a organização de projetos a mais longo prazo criando um sentido para a vida. Juntos, a Nova Mente e o RDR - Ritmologia de Rua – em parceria com a Academia de Artes Marciais estão montando um espaço cultural na Rua Liberdade. No local, deverá funcionar uma pequena biblioteca e um cursinho pré-vestibular para jovens carentes Para um repórter da TV Litoral e que também é músico, “estamos começando uma revolução” no sentido de colocar em pauta a importância da cultura na realização de cada um mas também para a qualidade de vida da cidade. Para ele, é muito importante esse evento unindo diferentes estilos musicais e atividades esportivas.
Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor da rede pública de ensino desde 1971. Assessor e militante de Educação Popular.
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