Logo que chego, percebo a ausência da Bete Mourão, sempre com suas linhas e agulhas, tricotando gorros, cintos e luvas quando não está vendendo suas hortaliças. Mas o grupo da agricultura orgânica está presente. Compro meia dúzia de espigas de milho verde. São pequenas mas o sabor e a ausência de agrotóxicos compensa. Não adianta a beleza e o tamanho se carregam consigo o veneno e seus efeitos. Junto com os alimentos vejo as plantas ornamentais. Adiante, em outra banca está o Sérgio seresteiro, e logo em frente a banca de plantas, entre as quais se destacam pelas variadas cores e formas as orquídeas e begônias. Ando um pouco e vejo a Lenina do Comitê de Bacias Hidrográficas do Litoral Norte; em outra banca vejo o Julinho, que não preciso nem apresentar porque é uma das pessoas mais conhecidas e queridas da cidade. Como cheguei tarde, na banca do Alemão só tem couve, hortelã e mentruz. Na ponta, no lado leste, próximo à Maria Alves estão os índios vendendo palmito-juçara. Percebo que o vendedor de pupunha da Itamambuca não veio. Hoje, na outra ponta, na fileira do meio, como sempre, está o vendedor de pupunha da Ressaca. Apesar das dificuldades é uma cultura que está se ampliando e garantindo aos restaurantes locais a elaboração de variados pratos. Recentemente encontrei Laís Bodansky, a diretora dos filmes “O Bicho de Sete Cabeças” e “Chega de Saudade” saboreando um palmito na brasa no Restaurante do Concha, em Itamambuca. Tenho o costume de dar uma volta pela feira toda antes de começar a comprar. Quando voltei para a ponta, no lado da BR, vi que havia uma banca vendendo fruta-pão. Logo me veio a lembrança da Ilha de Itamaracá. Ou será que era em Paripueira, em Maceió. Estava passeando pela praia, quando vi, ao lado de um quiosque um pé de fruta-pão carregado. Perguntei ao quiosqueiro se ele servia a fruta. Então, apanhou uma e preparou com manteiga. Foi a primeira vez que comi, salgada e cozida, um pouco parecida com mandioca. Penso no quanto o turismo está ligado à variação de paisagens, da flora e da fauna, de produtos culturais. Há toda uma interligação entre a economia, a geografia, a história e a cultura local e regional. Andar pela feira, encontrar com as pessoas e admirar seus produtos, conhecendo coisas novas é uma coisa que me dá com prazer e que faço aos sábados de manhã sempre que posso. Às vezes, quando preciso conversar com certas pessoas, vou à feira porque a probabilidade de encontrá-las naquele local é quase certo. É um espaço vivo de conhecimento e socialização, onde as pessoas trocam informações e avaliam os acontecimentos da cidade. Enquanto escolho uns quiabos, ouço a música dos Andes, de um grupo que colocou uma barraca de CDs perto do banheiro. Começo a me lembrar das filas intermináveis para comer no Mercado Municipal de Porto Alegre, durante o Fórum Social Mundial. Logo depois, o Mercado Municipal de São Paulo começou a ser reformado e se tornou um dos principais pontos turísticos de São Paulo, não só para a compra de alimentos e frutas, originários do mundo todo, mas também pela possibilidade de saborear lanches e pratos à la carte que representam a variedade de povos e culturas que construíram essa cidade. Quando ia a Belo Horizonte, não deixava de visitar o Mercado Municipal. Em um programa de TV, vi uma reportagem mostrando-o como um dos lugares mais visitados da capital mineira, justamente pela possibilidade de conhecer os produtos típicos de Minas. Penso que a Praça BIP, não tem sido considerada como merece quando se pensa nos atrativos turísticos de Ubatuba, com a vantagem de ser coberta mas sem paredes laterais, o que possibilita a bela visão da serra. Nela encontramos não só produtos de Ubatuba mas de toda a região, especialmente de São Luiz do Paraitinga. A presença dos músicos vendendo seus CDs me lembrou a possibilidade da Fundart instalar um palco permanente para apresentação dos músicos e grupos locais, especialmente aqueles ligados à música caipira. Acho que essa seria uma das medidas que, junto com a melhor divulgação e criação de outros atrativos poderiam garantir uma maior continuidade do fluxo turístico, contribuindo para a criação de postos de trabalho e geração de renda.
Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor da rede pública de ensino desde 1971. Assessor e militante de Educação Popular.
|