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COLUNISTA
Sidney Borges
21/08/2009 - 17h00
Dinheiro fácil
 
 

Ninguém sabe de onde vieram. Elegantes, bem falantes e ricos. O anúncio de página inteira que colocaram nos principais jornais convidava para uma palestra no elegante Clube Pinheiros, em São Paulo. Tema: ganhe dinheiro sem sair de casa. Compareceram mais de 4000 pessoas.

A fórmula da riqueza era simples, os palestrantes vendiam insumos para a indústria francesa de cosméticos. Produto de alto valor agregado. Quem estivesse interessado teria de comprar um kit e, seguindo as instruções com rigor, produzir a matéria prima que teria recompra garantida.

Para dirimir dúvidas e convencer desconfiados, os palestrantes disseram que os lucros nesse tipo de negócio eram compensadores. A empresa ao terceirizar o trabalho manual não tinha problemas com mão-de-obra e instalações, podendo remunerar os "sócios" de forma generosa.

Cada kit custava 100 reais. O processamento era simples, bastava adicionar água e transformar um farináceo amarelado em bolinhas. Depois de 12 horas de cura as bolinhas ficavam rígidas e eram recompradas por 120 reais. Negócio da China. Vinte por cento em 12 horas.

Um inconveniente, as bolinhas tinham cheiro de queijo. Muito forte, de longe lembravam meus tênis depois das caminhadas.

Dos mais de 4000 que participaram da primeira reunião apenas uma centena comprou o kit. No outro dia verificaram que a proposta era séria. Compraram por 100, gastaram alguns minutos e venderam por 120. Waal! Ganhar 20% livres de impostos é o desejo secreto de qualquer negociante.

Quem comprou o primeiro kit gostou da brincadeira. Levou 2 na segunda visita, quatro na terceira e 100 na quarta. A fortuna finalmente batera à porta. Urrah!

O acordo foi rigidamente cumprido durante meses. Dentro do maior sigilo para não atrair a atenção do Imposto de Renda. Algumas pessoas venderam casas para aplicar na indústria milagrosa, outros alugaram galpões e contrataram trabalhadores para fazer bolinhas. A produção crescia. O dinheiro jorrava, a imaginação viajava.

Que venham os carrões, as louras, as roupas da Daslu, o Romanée-Conti dos petistas de sucesso...

Quando os valores se tornaram altos, digo muito altos, ou melhor, altíssimos, o que não foi percebido pelos "novos ricos", os compradores sumiram.

Houve quem ficasse com milhões de reais aplicados em bolinhas malcheirosas.

Se amanhã os golpistas voltarem terão sucesso. Dizem por aí que o infinito não existe. Quem afirma isso certamente não levou em conta a estupidez humana.


Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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