Ubatuba tem uma estátua no trevo de Taubaté, pertinho da minha casa. Representa um pescador. De compleição pouco comum. Um galalau magrelo e cinzento com chapéu de palha e remo. Penso que no lugar do remo poderia ser uma rede com estrelas do mar de neon que acenderiam à noite. Ou apenas caniço e samburá. A obra remete ao Biotônico Fontoura, parece o Jeca Tatu, deve ser, o autor é de Taubaté. Colocaram a estátua de costas para quem chega, o visitante vê o gigante esquálido, ou melhor a bunda magra dele e imagina que a cidade é triste e pobre, quando é somente pobre, digo o povo é pobre, a Prefeitura é rica, tem uma das maiores arrecadações do litoral. Voltando à visão, o visitante olha, fica melancólico e vai-se embora pra Paraty, tomar parati. Embora de compleição diferente, o pescador me faz lembrar do Borba Gato, que contemplei muito no século passado. Um dia crio coragem e jogo tinta amarela nele. Ficaria mais apropriado, um imenso sinal de advertência para quem chega à cidade. Cuidado, há mistério... E pior do que isso, gente de pouca sensibilidade poética. Políticos, o povo é bom...
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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