Eu que não nasci com talentos, embora tenha tangenciado alguns, não tenho tido sorte em disputas. A vida me deu a convicção de que é tudo questão de acaso, no entanto, não posso deixar de sentir uma ponta de inveja de Michelângelo e de Mondrian, artistas talentosos. Eu queria ter esculpido e pintado como eles, faltou arte e engenho. Na área esportiva vejo Ronaldo tornar as coisas simples e me lembro das pernas atrapalhando meu parco futebol. Foi assim com o basquete e teria sido com o boxe não tivesse eu parado a tempo. Exatamente pela constatação da minha mediocridade é que meu peito se encheu de orgulho quando finalizei a transação com o simpático sorveteiro que costuma passar na frente de casa. Peguei um sundae de morango e um picolé de coco, paguei e quando eu ia entrando em casa ele me disse: - O senhor é o melhor freguês que eu tenho. Fiquei satisfeito, para alguém não acostumado a ser o melhor é um grande orgulho receber um título permeado de sinceridade. Pena que minha mãe tenha morrido. Ela ficaria orgulhosa. "O melhor freguês do sorveteiro". No ocaso da existência sou o melhor em alguma coisa...
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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