Conversa (des)afinada
Retirar as despesas do PAC do cálculo do superávit primário desgasta mais ainda esse conceito. É sabido que apenas a existência de superávit nominal permite afirmar que haverá uma redução do endividamento. Retirar gastos ’meritórios’ como PPI e PAC mostra o quanto conseguimos progredir em superficialidade na condução da política fiscal. E por que não retirar as despesas de pessoal responsável pelas obras de jardinagem da Granja do Torto, por exemplo? Recorrendo às parábolas tão caras ao nosso presidente, tudo se passa como se uma dona de casa ao cotejar receitas e despesas do lar, não considerasse como despesa a compra de ladrilhos para o banheiro. A mãe do PAC deve estar orgulhosa ao saber que os investimentos de sua área são tão importantes que deixam de ser contabilizados. E temos ainda de ouvir o Ministro da Fazenda afirmando que a meta do superávit primário está mantida. Uma lástima.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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