O rapaz entrou no bar do 23º andar de um velho edifício da Quinta Avenida, em Manhattan. Estava vazio, apenas uma mesa ocupada por um velho muito forte. - Ouvi dizer que da janela deste bar é possível voar. É verdade? O barman que esfregava o balcão de mármore parou, mordeu o cigarro que pendia do canto da boca e não respondeu. Seus olhos buscaram o freguês que lia jornal. - O senhor sabe de alguma coisa? - perguntou o rapaz. - Depende. - Depende do quê? - Das correntes. - Como assim? - Não dá pra explicar, melhor ver como está. Na janela o velho sentiu o vento: - Dia perfeito. Vou mostrar. Sentou-se com as pernas para fora, virou-se e esticou o corpo até ficar na horizontal. Com um leve movimento de ponta de dedos empurrou o parapeito e recuou flutuando com os braços abertos. O impulso foi suficiente para levá-lo até o outro lado da avenida, onde tocou num prédio e voltou. O rapaz ficou radiante. - Quer tentar? - Quero. Cheio de adrenalina o jovem repetiu os movimentos até ficar pendurado pelos braços. - Agora é só dar um empurrãozinho e sair voando. O grito foi ouvido por toda a vizinhança. O povo correu às janelas a tempo de ver o corpo estatelado na calçada. O velho retornou à mesa e ao jornal enquanto o barman resmungava remoendo o cigarro do canto da boca: - Super-Homem. Depois de velho virou um filho da puta...
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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