A obrigatoriedade do diploma específico de jornalismo para o exercício legal da profissão remonta ao ano de 1969. Antes de continuar é bom abrir parênteses. Jornalismo foi durante muito tempo uma espécie de quebra-galho de estudantes de direito e áreas afins até a chegada ao mercado da editora Abril, no início da década de 1960. Os salários altos atraíram parte daqueles que não tinham atração pelas profissões do chamado trio de ferro: medicina, engenharia e direito. Para ser jornalista bastava saber escrever e ter disposição para aprender. Em seis meses de redação a parte técnica da profissão perdia o mistério. Escrever bem, de forma fundamentada e criativa não é fácil, implica em cultura geral e isso não se aprende em cursos específicos. É doutrina de vida. A maioria dos jornalistas posicionava-se de forma crítica em relação às desigualdades sociais. O governo ditatorial não tolerava críticas. "Ame-o ou deixe-o". A exigência do diploma fez parte de um plano de cerceamento de expressão. Não funcionou, a ditadura caiu. O entulho ficou. Hoje sabemos da existência de enorme contingente de jovens diplomados e desempregados. A atividade está passando por grandes modificações, a entrada de novas mídias no ar mudou o panorama. A Internet dá de graça ao vivo e em cores o que antes era mercadoria valiosa. Os jornalões em crise diminuíram postos de trabalho, cortaram sucursais e salários. Eu nunca fui contra ou a favor de diploma específico, não o tenho, só entrei em escolas de jornalismo como professor. E nessas escolas aconselhei estudantes a fazer cursos paralelos, a se aprofundar em alguma área, a ler, a viajar, ainda que num cargueiro do Lloyd lavando o porão. Os tempos são outros, hoje eu aconselharia a busca do "eldorado brasiliensis", traduzido por cargo público na esfera federal. Se possível no Senado. Garantia de aposentadoria decente, vida mansa e estabilidade perpétua. É o que eu faria se pudesse voltar no tempo. Aos que sentem prazer em exercer o jornalismo existe um canal de expressão disponível que só exige trabalho e dedicação. Basta criar um blog e torná-lo uma arma em luta por um mundo melhor. No entanto, faço uma advertência, é preciso escrever muito, pois só se aprende a arte através da prática.
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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