Uma data que ocorre sempre uma vez por ano Um pretexto, um motivo, ou um álibi talvez Para os apaixonados abdicar da lucidez. Cultivada com esmero no rigor do cotidiano. Namorados têm seu dia consagrado no varejo É a hora de gastança testemunho da paixão Como se pela despesa se julgasse a afeição Ou se fosse a embalagem garantia do desejo. Os anúncios insistentes incendeiam fantasias Estimulam, patrocinam, nutrem a competição, Pois é fato, na bandeja tem de estar o coração, Condição para resgate de pecados de outros dias Se a salva for motivo de indulgência suserana, Se for o tributo aceito com sorriso encantador Servirá por um instante o gesto mutilador Para uso e consumo para a tal doce tirana. Mas se for praticidade, mesmo, o nome do jogo Há opções no comércio: celulares ou bombons Lenços, calças ou jantares (dos melhores ou dos bons) Bato palmas, mas hesito colocar a mão no fogo. Já sabendo qual o risco que advém da queimadura A razão, sempre presente, aconselha a prudência É melhor deixar de lado, por um tempo a impaciência Pois a tal chama sagrada ilumina enquanto dura.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
|