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COLUNISTA
Alexandru Solomon
29/05/2009 - 17h08
Pesadelo privatista e a CPI da Petrobras
 
 

De acordo com o autor Jean Sevilla no seu livro “Terrorismo intelectual”, existe uma técnica, que, por ser universal, vem sendo usada abusivamente por essas bandas também. Concentram-se virtudes negativas, abomináveis, execráveis etc. e elas são associadas a um rótulo, que logo a seguir passa a ser usado como estigma, descolado da sua origem. Privatista é um deles. O candidato Alckmin que o diga, ao rejeitar, vestindo uma camiseta da Petrobras a ‘pecha infamante’ de querer privatizar a Petrobras.

Rótulos blasfematórios não faltam e já são usados de forma mecânica para desqualificar opositores. Privatistas, neoliberais, elites, vendilhões etc. Poucos se lembram de onde partiu o jato de veneno, restou o insulto, revigorado pelo uso contínuo.

Em função disso, desenvolveram-se movimentos demagógicos para movimentar massas de manobra prestes a escandir: Fora FMI, A Petrobras é nossa – coroando essa hipocrisia com rituais cheios de apelo emocional, como, por exemplo, “abraçar a sede da Petrobras”. E por que não postos de gasolina? Dentro do repertório de mistificações usadas sobressai-se chamar de “impatriótica” a CPI da Petrobras, como apontado por José Neumanne (Estado A2 27/5).

Um pouco de reflexão acerca do slogan “A Petrobras é nossa” mal algum faria. Nossa? De quem? Trata-se de uma empresa por ações que pertence, pois, aos acionistas, sendo o maior dele o Estado. Suponhamos que, cúmulo dos horrores, o Governo venderia parte das ações – como já o fez – mas exageraria na dose, a ponto de ceder o controle a algum grupo econômico, ou a uma massa enorme de acionistas individuais. Qual a grave ameaça que pairaria sobre o indefeso povo, em nome do qual tantos enchem a boca?

Pensemos no pré-sal. Segundo o bem informado diretor-geral da ANP, Haroldo Lima, 50 bilhões de barris compõem nosso “mar de petróleo” (essa simples declaração sem embasamento justificaria sua demissão). Um senador rápido de contas (A. Mercadante ao debater com o sen. Guerra na globonews) já afirmou que a 60 dólares o barril, isso significa 3 trilhões de dólares. Essa fortuna não está á disposição de quem gritar: Eu quero minha parte – quero meus 15 mil dólares! Será preciso extrair, pelo menos. Nesse ponto, entra o único argumento válido dos adversários da privatização. O “timing” de uma empresa subordinada ao governo pode não ser o mesmo de uma empresa privada. Se é interessante explorar tendo em mente um horizonte de 20, 50 ou 200 anos é, de fato, uma questão sensível. Seria preciso imaginar qual a evolução das cotações desse bem finito, o possível surgimento de substitutos, hoje ainda no estágio de desejos, a utilização dessa riqueza em benefício de causas nobres etc. O “busilis” é saber se dentro de x anos (e qual será o X?), o petróleo terá a mesma importância de hoje. Não me refiro apenas à utilização na matriz energética, pois é apenas uma questão de tempo substituir o combustível. Mais complicado seria encontrar alternativas para a indústria de plásticos - qual o futuro da petroquímica? -.

Visto sob esse prisma, o problema da administração do uso de um recurso escasso parece decisivo. mas um momento de reflexão nos leva à dúvida: Quem diz que uma estatal, com os vícios, a ela inerentes, acumulados ao longo de TODOS os regimes (agravados com o atual uso irresponsável da Empresa como muleta de uma política “nefelibática” - como diria o outro), saberá fazer melhor? Não nos esqueçamos de que o Governo (qualquer um) será, em tese, suficientemente inteligente para, mesmo em caso de privatização, manter/impor um controle das operações para evitar uma exaustão prematura.

Privatizada ou não, a Petrobras, Petrobrax (há quem mal consegue conter a fúria ante esse nome sacrílego) ou Entreguista S/A, seja qual for o nome não arrancará, sem custo, das entranhas da Terra esse petróleo e depositará o produto da venda numa conta aberta em nome do “Povo brasileiro e/ou”. Imaginar fantasmas hostis, como as “malditas multinacionais” conspirando contra nós não enriquece a discussão. Afinal a “Maldita multinacional Petrobras” não irá prospectar petróleo no Mar Negro? Já não o faz em tantos outros lugares?

Haverá um sistema de concessão, partilha ou alguma forma criativa, mas qualquer que seja, haverá um valor enorme composto de receita mais o festival de impostos que irá parar numa rubrica orçamentária. Daí à conta “Povo brasileiro e/ou”, infelizmente, haverá uma distância abissal.

O que seria profundamente lamentável é que diretorias como a “que fura e acha petróleo” continuem objeto de acordos políticos e que os resultados da atividade de exploração, ao invés de irem para a conta “Povo brasileiro e/ou” financiem projetos suspeitos, eventos promovidos por ONG’s bizarras e outras variações sobre esse tema – por demais indigesto. E isso, dificilmente aconteceria no caso de prevalecer essa tão detestável privatização que a todos - situação e oposição - parece horripilar.

O assunto merece ser debatido seriamente sem perder de vista que uma fortuna como essa não aparece a qualquer momento. Debate sem gritaria, por favor!


Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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