“Nesse mundo às avessas nada corre como aqui Temos cura para males. Yes, nos temos CPI Só que essa mise en scène nada mais é do que lero Para produzirmos pizzas, pra servir no Fome-zero”. A oposição cria CPI para investigar a Petrobras. "Este governo passa acordado 24 horas por dia" de acordo com o presidente Lula, mas mesmo assim baixou a guarda numa sexta-feira, num plenário vazio. Claro, já que não há pagamento de horas-extras em dias, durante os quais, em princípio há de se trabalhar, por que diabo haveria mais gente no palco? Tudo indica que o clima será diferente daquele presente em uma reunião com analistas de mercado. Sejamos otimistas e descartemos a possibilidade de essa CPI dar em nada. O que se pode esperar dela, caso realmente venha acontecer? Se o objetivo for orientar a Petrobras para maior transparência, a CPI será bem-vinda. Ocorre que o acionista majoritário é a União, o que neste momento, equivale a dizer o Governo do PT. A CPI orientará o Governo Lula? E o Governo, mais do que depressa, seguirá a orientação? Se o objetivo for apurar superfaturamento e irregularidades quetais, será preciso separá-las da diretriz do Governo, que ao orientar (leia-se impor) na compra de produtos (plataformas) made in Brazil, de certo modo já empurra goela abaixo um tipo de superfaturamento - com nobres propósitos macroeconômicos, decerto, mas sem justificativa para os acionistas minoritários ("detestáveis especuladores locais", aplicadores através de fundo FGTS/Petrobras, "gananciosos estrangeiros" e outros). Isso já acontece, apesar dos vitupérios auriverdes dirigidos ao protecionismo... dos outros. Se for para explicar (supostas) irregularidades outras (licitações duvidosas, desvios de royalties etc.) será importante levantar, de fato, as responsabilidades, sem ficar (ainda na hipótese de haver infrações) no intolerável "eu não sabia’ ou "fiz porque eles (seria ótimo identificar, na oportunidade, os maldosos ’eles’) mandaram". Não se trata de punir, nada de fogueiras inquisitoriais, mas corrigir - se for o caso. Se houver espaço na agenda, nada como explicar ao público pagante as sutilezas da política externa da empresa, que em nome de uma estratégia de liderança continental do Brasil serve, de forma onerosa para seus acionistas, de punching ball de primos e hermanos. Diga-se de passagem, não há novidade nisso. Basta lembrar peripécias da Petrobras no Iraque no século passado. Se for para investigar a tão falada alteração contábil, preparem-se para divertidas sessões, durante as quais, as Excelências que excelem em diversos domínios do saber, talvez nem tanto na contabilidade, irão se aventurar num terreno onde grandes tributaristas – com entendimento superior – sem querer menosprezar nossos talentosos representantes – não chegaram a uma conclusão definitiva. Restará o de sempre: o show pirotécnico, ou como já se disse, "a espectacularização". Seria o caso de se descobrir como a Petrobras pode ser tão incompetente a ponto de não conseguir revelar o montante das reservas no pré-sal, se o diretor-geral da ANP, Haroldo Lima, já tem na ponta da língua o valor de 50 bilhões de barris. Ou será que... Melhor não conjeturar. Entende-se perfeitamente a indignação do presidente Lula, ao chamar de irresponsável a oposição. Quando ele era oposição, nunca antes neste país houve tamanho espírito de fraterna colaboração por parte dele e de seu partido.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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