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COLUNISTA
Rui Grilo
15/05/2009 - 18h00
A visita da velha senhora
 
 

Acompanhando as sessões da Câmara Municipal, tenho observado que os grupos lá comparecem para acompanhar projetos e homenagens à pessoas do seu círculo social, após a apresentação do assunto que lhes dizem respeito mais diretamente, abandonam o auditório, como se o que acontece na cidade e aos outros não tivesse nenhuma relação com sua vida. Não existe uma vinculação e um compromisso com a cidade em que moram, como se as decisões que se tomam na Casa não fossem a conseqüência da escolha desses legisladores pela população. O que explicaria a reeleição de vereadores que estão envolvidos com processos em mandatos anteriores e sobre os quais há fortes indícios de culpabilidade, segundo notícias veiculadas pelos jornais locais?

Uma das estratégias para a manutenção do poder é ter o controle econômico dos meios de comunicação e calar a oposição usando a intimidação, daí a importância da realização da Conferência Nacional da Educação para a discussão sobre o controle que a sociedade precisa ter sobre esses meios para que haja acesso das diferentes vozes e opiniões.

Na época da ditadura, como havia um controle rigoroso da liberdade de expressão, os jornais e artistas foram obrigados a se valer de vários recursos da linguagem, para denunciar o que estava ocorrendo no país, como podemos perceber na letra da música “Cálice”, em que Chico Buarque e Gilberto Gil usaram uma passagem bíblica e a semelhança sonora entre as palavras cálice e cale-se, embora com grafias diferentes.

Diz-se que caiu a lei de imprensa, mas usa-se os artigos do Código Penal referentes à calúnia e difamação para calar as vozes discordantes, porque quem tem poder não precisa mostrar a própria cara e pode usar de “laranjas” para processar quem tem opinião diferente. Como o povo diz, pode-se encontrar pelo em casca de ovo. E quem não tem um bom advogado ou dinheiro para pagar um, pode se intimidar porque até provar a própria inocência, terá que enfrentar muitas dificuldades financeiras e sociais. Esta é uma nova forma de intimidação, diferente daquela usada pelos traficantes.

O tráfico cresce porque ameaça e muitos tem medo de denunciá-lo porque realmente há o risco, como aconteceu com o jornalista da Globo Tim Lopes e o juiz Falcone, na Itália. Apesar desses riscos há pessoas que ousaram enfrentar, tanto o poder político e o econômico quanto do tráfico. Entre outras podemos citar Clarice Herzog, as mães e avós da Praça de Maio e as mães de Acary.

No entanto, essa luta tem muito mais resultados quando não é isolada mas o fruto de uma sociedade e instituições organizadas, como a Transparência Brasil, o Voto Consciente e a AMARRIBO (Amigos Associados de Ribeirão Bonito).

Observando esses fatos veio-me a lembrança do filme “A Visita”, baseado no clássico do teatro “A Visita da Velha Senhora” de Friedrich Dürrenmatt. Não me lembro muito dos detalhes porque era muito jovem quando vi esse filme mas a seguir procuro fazer uma síntese.

Na sua juventude, Clara foi expulsa da cidade por ter engravidado de um homem casado. Passados muitos anos, a cidade entra em crise porque todos dependem de uma empresa que vai fechar. Para sobreviverem todos dependem da nova proprietária que todos desconhecem. Sua chegada à cidade é aguardada com muita apreensão e esperança.

Quando chega, descobrem que é Clara. Sua condição para manter os empregos é a morte daquele que a empurrou para a prostituição quando era jovem. Os moradores, no começo resistem, achando a proposta descabida. No entanto, aos poucos, vai ganhando a adesão dos moradores e o vilão é condenado. Mas o que ela realmente queria era colocar a nu a hipocrisia de uma sociedade que a expulsou e, que se volta contra um dos seus condenando-o à morte para defender a própria pele. Atingido o seu intento, deixa a cidade.

O fato de ser expulsa da cidade, longe daquele grupo, é que lhe deu condições de “vencer”, de se fortalecer e de voltar e submeter a cidade toda a um julgamento porque a sua destruição e a sua humilhação não foi causada apenas por uma pessoa, mas pela omissão de muitos que se curvaram ao poder.


Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor da rede pública de ensino desde 1971. Assessor e militante de Educação Popular.
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