Sidnei Basile, diretor secretário editorial e de relações institucionais da Editora Abril, em um debate da série Jornalismo Sitiado, apresentado pela TV Cultura, cita um exemplo da perda de foco da imprensa: em uma reunião entre Clinton e Arafat para discussão de um possível acordo de paz no Oriente Médio, toda a imprensa abandonou o principal com perguntas sobre a relação dele com a estagiária da Casa Branca. Ou seja, o foco deixa de ser o interesse público para se concentrar na vida privada. Um outro exemplo são os realitys shows, como o Big Brother Brasil, onde situações privadas são vistas pelo grande público. Qual a repercussão que isso terá na vida da cidade e de cada um? Na origem, o ideal que inspirava a imprensa e o seu desenvolvimento era garantir o acesso às informações e às idéias, era a construção do espaço público, entendido como o espaço onde se estabelecem as relações coletivas e os destinos da sociedade. A imprensa era um espaço de argumentação e de defesa dos diferentes ideais. Assim, na Paris do século XVIII, havia mais de cem pequenos jornais, o que refletia o clima revolucionário da época. O ideal que inspirava esses jornalistas era: “Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido.” Numa segunda fase, o objetivo passa a ser vender idéias. Em seguida, os meios de comunicação de massa passam a ser intérpretes dos interesses privados das grandes corporações. A geração de notícias e a sua divulgação passa pelo crivo dos interesses econômicos e políticos. Na fase atual, há a segmentação de públicos e de consumidores. Também há a dispersão e a geração de notícias por diferentes atores e instituições, passando pelas grandes corporações à movimentos sociais e formação de grupos via internet. A grande enxurrada de informações torna difícil o processamento e a verificação da credibilidade. A mídia deixa de ser um espaço de argumentação e passa por ser um espaço de afirmação e de visibilidade. Só existe o que deu na imprensa. Ao mesmo tempo em que há uma grande dispersão da geração de notícias, há uma grande concentração de poder pois a mesma corporação que produz o jornal impresso, também controla a produção da TV, cinema, teatro, música e as empresas de telecomunicações. A sociedade fica sem alternativas, pois as grandes redes praticamente exibem o mesmo tipo de programação. Com isso há uma grande fuga para a internet, um espaço mais aberto e plural. Talvez isso explique a queda das tiragens de jornais e dos programas de TV. No entanto, muitos ainda estão excluídos, sem acesso a essa tecnologia. E muito do tempo gasto na internet é usado para jogar conversa fora, rompendo, às vezes, os limites éticos e morais, acobertados pela impessoalidade e por um mundo de faz de conta, afastando as pessoas dos compromissos com o mundo real e da convivência nos espaços públicos.
Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor da rede pública de ensino desde 1971. Assessor e militante de Educação Popular.
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