Acredito que uma das maiores dores que uma pessoa possa sofrer é a dor da perda de um filho, principalmente para as mães que o carregaram dentro de si por nove meses. Muitas vezes, por falta de conhecimento e instrução, ouve-se dizer: “Foi Deus que levou”. Mas esse Deus seria muito injusto porque a quase totalidade das crianças que morrem nos primeiros anos de vida são aquelas que moram em locais sem saneamento básico. Ainda se morre de diarréia, de desnutrição e de outras doenças para as quais já existem vacinas e remédios. A Pastoral da Criança, coordenada pela Drª Zilda Arns, desenvolve uma grande ação preventiva que está se tornando modelo mundial pois, com pouquíssimo dinheiro, tem como resultado a redução da mortalidade infantil e o desenvolvimento de crianças saudáveis. Essa ação consiste na pesagem e acompanhamento da criança, na aplicação do soro caseiro e da multimistura (um poderoso complemento alimentar feito de folhas de plantas ricas em ferro, casca de ovo e sementes). Todo esse trabalho tem sido feito por voluntárias e voluntários formados pela Pastoral. Um programa de TV me alertou para a seguinte realidade: a falta de saneamento básico penaliza principalmente mulheres e crianças. Sem o abastecimento de água, as mulheres gastam muitas horas de jornada para captá-la e transportá-la percorrendo grandes distâncias. Para auxiliá-las recorrem às crianças. A falta de água prejudica toda a a rotina doméstica para manter o asseio corporal, a lavagem de roupas e a limpeza da casa. Há duas semanas atrás, uma equipe da Prefeitura foi até o bairro da Sesmaria (Ubatuba, SP) para propor o congelamento do bairro. Mas, mulheres presentes na reunião deslocaram o foco principal para a promessa de campanha não cumprida: a extensão de água encanada a todas as moradias. O tom da discussão era: por que alguns têm e outros não podem ter? A falta de planejamento da cidade e de desenvolvimento de uma política de habitação social tem levado a esse descalabro e a ocasionar o choque entre as leis: o direito de morar dignamente e a proteção do meio ambiente. O saneamento básico é um direito essencial para manter a qualidade de vida. A pesquisadora do IPEA, Maria da Piedade, confirmou que realmente agora essa questão ganhou prioridade no governo federal com a instituição do Ano do Saneamento Básico, garantindo que grande parte dos recursos do PAC sejam destinados para esse fim. Mas o problema é tão grave do ponto de vista da saúde, que a pesquisadora da Fundação Osvaldo Cruz, Clarice Melamed, mesmo reconhecendo que foi dado um grande avanço, acha que ainda está sendo muito lento. Por isso é necessário a mobilização da população. Em Interlagos, só conseguimos um plano de extensão a toda a população depois de muita mobilização. Chegamos a levar quarenta ônibus à sede da Sabesp, no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Os debatedores confirmam que, durante a ditadura militar, houve um grande avanço com a criação do PLANASA – PLANO NACIONAL DE SANEAMENTO e que depois houve uma freada, porque grande parte da classe média já foi atendida, no que se refere à água tratada, ficando de fora apenas as populações da periferia. O Sr. Leodegard Tiskotski do Ministério das Cidades e o Sr. Silvano Silvério da Costa, Diretor do Meio Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente foram muito enfáticos em afirmar que existem verbas, mas tanto empresas privadas quanto prefeituras, não tem apresentado projetos para solicitá-las para empreendimentos de saneamento básico.
Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor da rede pública de ensino desde 1971. Assessor e militante de Educação Popular.
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