“é tão belo como um sim numa sala negativa” - João Cabral de Melo Neto O texto “Remédio indicado” do Celso de Almeida Jr (Ubatuba Víbora, 20/02/09) me fez lembrar de “Morte e Vida Severina”, em que um retirante, cansado das lutas pela vida, de tantos nãos recebidos, recebe o consolo de um sim, de uma palavra amiga. Por isso agradeço a ele por reforçar a minha crença no gênero humano. No entanto, como o Corsino registra em seu texto “Saudável e santo remédio”, muitos preferem não se manifestar em público com medo de retaliações. E faz parte do ser humano, do seu instinto de sobrevivência, o medo. Mas não podemos deixar que ele iniba as nossas ações. Todo regime autoritário se impõe pelo medo e, quanto mais a sociedade se encolhe, maior é a tirania. O povo alemão sabe bem o que é isso. Se a sociedade brasileira não tivesse reagido, talvez até hoje estaríamos na ditadura. Muitos que apoiaram a ditadura no seu início, pagaram muito caro depois. Mas o trabalho com adolescentes nos coloca em situações difíceis e cotidianas em que eles, para conquistarem o prestígio da galera e para se auto-afirmarem, tratam com irreverência e até com certo sadismo os mais velhos ou aqueles que vão contra as suas pretensões. Estão no limite entre a infância e a vida adulta e, muitas vezes não conseguem fazer essa passagem. Há muitos adultos que ainda se comportam como adolescentes, não percebendo que, aquilo que é compreensível em uma fase de nossas vidas, é ridículo na vida adulta. Uma das características da infância é o ser humano estar centrado no seu próprio umbigo e não conseguir ver os fatos do ponto de vista do outro. Como vivemos em sociedade, não há como não levar em consideração o outro. Isso vai ocasionar muitas trombadas e o adolescente vai amadurecer à força. Vai aprender que nem sempre tem razão e que, às vezes, é necessário ceder para avançar. Essa reflexão me faz lembrar de um livro muito interessante da Ruth Rocha - “O Dono da Bola” - em que um menino de melhor poder aquisitivo, sempre ameaça sair do jogo levando sua bola e prejudicando a todos. Um dia, o grupo resolve não se submeter a sua chantagem e resolve improvisar uma bola até poder comprar uma. Quem ganhou? Quem perdeu?
Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor da rede pública de ensino desde 1971. Assessor e militante de Educação Popular.
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