“...o principal temor das elites hoje em relação ao MST não é a invasão de terras, mas os convênios que fizemos com várias universidades. Já temos acordos com 42 universidades e temos sido fortemente combatidos por isso.” (João Pedro Stédile) Para o MST é necessário adaptar cursos para fixar o jovem no campo, cursos de três a quatro meses, e depois voltar ao assentamento. Se ficar o ano todo fora, não voltará e engrossará a massa em busca de emprego nas cidades. Estive numa escola de formação de lideranças rurais em Urucará, no Amazonas, ligada a grupos católicos, em que os alunos eram separados por sexo, em turnos quinzenais. Ao fim de cada turno, um barco levava os alunos masculinos e retornava à escola com uma turma feminina. Durante o tempo em que permaneciam com a família, tinham como tarefa de casa o desenvolvimento de pequenos projetos: criação de pequenos animais, hortas etc. Pouca gente sabe, mas em Guararema (SP) o MST montou a Escola Nacional Florestan Fernandes onde são dados cursos de capacitação teórica e técnica por grandes pensadores e técnicos de várias partes do mundo, os quais vem dar a sua contribuição de forma voluntária. Em uma grande área, os próprios assentados produziram os tijolos e construíram os alojamentos, o restaurante, o centro de informática e todas as dependências. Cada grupo de assentados que ia participar de algum curso, pagava o que recebia com trabalhos necessários para a construção. Contou com assessoria voluntária de arquitetos e engenheiros. Estive lá, a convite, quando houve uma reunião para cadastramento de educadores que pudessem contribuir para a escola. Havia educadores de todas as áreas, desde cinema à física, matemática e informática. Retornei para a inauguração da biblioteca, formada a partir de doações. Pouca gente também sabe que muitos alimentos com marcas de supermercados são produtos do MST. Por isso, o Movimento abriu uma pequena loja no centro de São Paulo, onde podem ser adquiridos seus produtos agrícolas e industrializados, inclusive livros e cds. O leite longa vida Terra Viva, com a marca MST produzida pela Cooperoeste é a mais vendida em várias cidades do oeste de Santa Catarina e do Paraná. A grande imprensa prefere apresentar o MST de uma forma negativa. Mais de 600 processos foram abertos contra o Movimento mas, apesar da violência contra o Movimento, e de 31 militantes terem sido assassinados, nenhum réu cumpre pena. Para o geógrafo Ariovaldo Umbelino, o ódio contra o MST só se explica pelo fato de ter colocado o dedo na ferida: que 82 milhões de terras públicas foram indevidamente apropriadas por particulares enquanto 4,5 milhões de famílias vivem na mais extrema pobreza, nas margens das rodovias e favelas. De 1995 até o ano passado, o Ministério do Trabalho libertou quase 23 mil indivíduos em situação de escravidão. Parte deles estava em fazendas mantidas por empresas celebradas pelo volume de produção e exportação. A partir do seu nascimento no Paraná, em 1984, o MST tornou-se o mais importante movimento social, recolocando o problema da concentração de terras e estimulando o surgimento de outras organizações sociais. Segundo Stédile, uma de suas maiores lideranças, “O MST tornou-se uma espécie de organizador coletivo da vontade dos pobres.” (veja mais em Carta Capital, nº 530 de 28/01/09)
Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor da rede pública de ensino desde 1971. Assessor e militante de Educação Popular.
|