Todo objeto tem vários lados e maneiras de se ver. Nesta semana, uma amiga, em dois momentos diferentes, afirmou que a participação dela no Fórum Social Mundial em Porto Alegre mudou a sua maneira de ver e começou a se tornar uma verdadeira cidadã participando mais das questões atuais. Ao mesmo tempo, outros criticam o governo por subsidiar a realização do Fórum. O jornalista Guilherme Fiúza disparou a seguinte crítica na revista Época: “Lula pegou só mais 80 milhões de reais dos impostos que você paga para bancar a festa na Amazônia.” Acredito que vários governos investiram muito mais dinheiro para salvar empresas e bancos falidos cujos donos vivem como marajás. Como se sabe, o Fórum Social Mundial começou no Brasil, sediando várias vezes, com a participação de um grupo grande de brasileiros na organização. Isso deu maior visibilidade ao Brasil e Porto Alegre passou a ser uma referência mundial. A cada novo encontro são milhares de participantes de todas as partes do mundo que incrementam a economia local. Em Belém, são mais de cem mil participantes. Da mesma maneira que o Rio precisou se adaptar para receber os Jogos Panamericanos e muitas obras construídas beneficiaram os moradores locais, tanto com a utilização da mão-de-obra, como pela continuidade do uso desses equipamentos que foram incorporados à cidade, o mesmo acontece com Belém. O Fórum também é um imenso espaço de troca de saberes e tecnologias sociais para a superação de problemas e carências. Apesar das críticas e dos boicotes, principalmente das grandes redes que preferem cobrir e divulgar os últimos casos amorosos de celebridades, o Fórum conseguiu se firmar como referência e contraponto ao Fórum Mundial de Davos, que reúne os oito países mais ricos. Acompanhando flashes dos noticiários pode-se ver a contaminação do Fórum de Davos por participantes e idéias do Fórum Social Mundial para enfrentar a crise atual. E a imprensa vai sendo cada vez mais obrigada a cobrir o Fórum Social Mundial devido à importância que cada vez mais vai assumindo. Tudo tem um custo e acredito que a maior parte dos contribuintes preferem que esses gastos sejam feitos para a construção de um mundo melhor e não para a carnificina que está sendo feita em Gaza e em outros lugares do mundo.
Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor da rede pública de ensino desde 1971. Assessor e militante de Educação Popular.
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