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COLUNISTA
Sidney Borges
27/12/2007 - 18h15
Eu morto?
 
 

Noite dessas tive um sonho estranho, como devem ser os sonhos, que se não fossem estranhos não seriam sonhos. Seriam repetição da realidade que por mais absurda que seja é a única que temos e devemos amá-la, pois não sabemos o que seria de nós sem ela. Deitei tarde, com as pálpebras pesadas e de repente me vi num lugar com muita gente, muito barulho, todos apressados, caminhando rápido. Olhei bem, não me era de todo alheia a paisagem. Eu estava na avenida São Luiz, em São Paulo, quase em frente ao prédio onde morou Caetano Veloso. Atravessei a rua, um veículo que parecia ser um carro, uma espécie de Nash 48, veio em minha direção. Tentei desviar, não foi possível, ele passou através de meu corpo como se eu não existisse. Refeito do susto segui a multidão. Na praça da biblioteca havia uma comemoração. No palanque uma faixa estampava homenagem ao sesquicentenário de Oscar Niemeyer, nascido em 1907. Ele completava naquele dia cento e cinqüenta anos, lúcido e trabalhando ao lado da esposa. A décima segunda. Havia muitas bandeiras vermelhas com a foice e o martelo, fiquei emocionado quando Oscar subiu ao palanque e discursou em tom suave sobre a beleza das curvas e a necessidade de um mundo mais justo. Depois acendeu uma cigarrilha, tomou um trago e se deitou na rede. Fui embora quando a multidão começou a se dispersar. Na esquina encontrei um velho amigo que não via desde os tempos de infância. Paramos para um café, ele ficou feliz em me ver, falamos dos velhos tempos, lembramos dos amigos e só então me dei conta de que ele havia morrido há mais de dez anos. Perguntei sobre a vida de morto. Ele me disse que não é das piores, os impostos são mais brandos e há emprego para todos. Além do trânsito não apresentar congestionamentos, os veículos passam uns pelos outros e pelos prédios e casas sem problemas. No lado de lá não valem as leis da matéria. Despedimo-nos com um forte abraço, embora eu não o sentisse nem ele a mim, os mortos são menos densos, mais etéreos, quase gasosos. Quando ia saindo ele me perguntou como tinha sido a minha passagem. Que passagem? Sua morte. Como você veio parar aqui? Acidente, câncer, vício, bala perdida? Só nesse momento me dei conta que estava vivendo um pesadelo. Acordei suando. Aquele carro que passou através do meu corpo não me sai da cabeça...


Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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