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COLUNISTA
Sidney Borges
20/12/2007 - 12h01
Manhã chuvosa
 
 

Um dia eu conversava com um amigo sobre a inconveniência da dupla jornada para os cofres públicos, me empolguei e, suponho, falei demais. Por um breve instante senti que tinha tocado em nervo exposto. Ele contra atacou: escrever é fácil. Eu não estava escrevendo, estava falando, mas ele repetiu: é fácil ficar escrevendo, fazer é difícil. Eu ia perguntar: fazer o quê? Deixei pra lá. Há tantos fazeres possíveis, não cabia a pergunta, seria impertinência de minha parte. Na nobre arte do boxe há golpes estranhos, de efeito retardado, geralmente no fígado. Na hora nada acontece. Instantes depois o lutador desaba como se tivesse sido picado pela mamba negra. Escrever é fácil ecoava em minha cabeça. Só vim a sentir a intensidade do hook quando escolhia o sorvete. Chocolate light ou coco? Que encruzilhada, a vida é cheia de armadilhas. Como alguém pode dizer que escrever é fácil? Ao pensar na possibilidade minha cabeça rodou, comecei a me sentir fraco, a suar frio. Entrei em quase pânico. Fui salvo pelo gongo. Quando aprecio um gelado me detenho a contemplar a passagem do tempo, fluxo contínuo, rio invisível que arranca pedaços, solapa as margens. Leva a mocidade e forma sulcos em rostos e almas. Como todo fluxo contínuo um dia será fonte de energia, quem sabe capaz de devolver o que o tempo levou. Otimista eu sou e sempre serei. Não poderia ser diferente, há bilhões de anos meu ancestral era um pobre organismo unicelular, hoje me sinto uma metamorfose ambulante multicelular que fala ao telefone celular. Avancei. Nem gosto de tocar no assunto, meu antepassado simplório nasceu e morreu analfabeto. Deve ser dele a herança maldita, a dificuldade em escrever. Palmiro Togliatti cantava. A mezza notte será domani, espulsaremo Il americani. A mezza notte céu strelatto, Il santo papa será inforcatto... Desculpem o italiano, deixem por conta do novo jornalismo. Gay Talese escrevia como se fala nas ruas, coloquial. Será que achava fácil escrever? Uma folha de papel em branco é um terror, fico sem saber por onde começar, em certos dias nem começo, em outros começo, termino e jogo fora. Escrever é fácil para quem tem o dom. Eu não tenho. Apesar da falta de talento continuo tentando, um dia aprendo. É assim a vida, a repetição acaba por entortar o cachimbo e a boca do fumante, e como todos sabem, o cachimbo é de barro, bate no jarro, o jarro é de ouro, bate no touro, o touro é valente e mata a gente. Bulshit.


Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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