Será que o modelo adotado pelos Estados Unidos para combater o tráfico de drogas funciona? O termômetro capaz de avaliar isso está nas ruas do grande país do norte. Se não há drogas, ou se há em pouca quantidade, o preço sobe e os que trabalham no tráfico buscam outras ocupações, sempre no mundo paralelo da ilegalidade.

Diríamos que nesse caso a temperatura sobe, aumentam os roubos, seqüestros, assaltos e conexos. Se há aumento na oferta, a droga baixa de preço e os lucros diminuem. Nesta fase - de temperatura baixa - os traficantes buscam novos usuários, seduzem, falam da qualidade do produto, da pureza da mercadoria, dão amostras, fazem de tudo para conquistar os futuros clientes.

Um amigo recém chegado da "Big Apple" (Nova Iorque) diz que lá se encontra de tudo, em qualquer esquina, e os preços estão estáveis. Ele não é drogado, é jornalista, e tirou essas informações da Internet, do site do órgão encarregado da repressão.

É sinal de que apesar das tentativas de impedir, o tráfico está firme e forte e ao que tudo indica vencendo a guerra.

É impossível evitar que isso aconteça, o dinheiro gerado pela atividade está num patamar tão alto que consegue nivelar os homens. Para o tráfico não há diferença entre homens sérios e homens corruptos, ou melhor, há uma sutil diferença alguns são mais caros. O tráfico tem dinheiro para pagar, por maior que seja o preço.

É aí que reside a fragilidade do modelo americano.

Não há como evitar a corrupção, ela dá acesso ao bem supremo do capitalismo que é o consumo desvairado de supérfluos. O modelo repressivo deveria ser repensado, na América do Sul o tráfico está causando transtornos, principalmente na Colômbia e no Brasil, onde aos poucos a guerra civil vai se instalando.

O que fazer eu não sei, sei que o que está sendo feito não está funcionando e precisa mudar. Drogados sempre haverá, não seria o caso de deixá-los livres para exercer a individualidade?

Pensando bem, não é o modelo de combate ao tráfico que precisa ser repensado, é o modelo de sociedade que está implantado no mundo que deveríamos levar em conta. Como chegamos até aqui?

Trabalha-se muito para consumir o que não é necessário, e depois fortunas são gastas para usar e manter os supérfluos.

Carro gera poluição, mas sem carro você não é ninguém. Sou contra a matança dos animais, mas aquele casaco de pele de foca (bebê foca massacrado com um taco de beisebol) é um luxo, vou comprar. A contradição é tanta que há dois caminhos. Um é a alienação: "não sei, não vi e não quero saber, compro se puder". O outro caminho são as drogas, alternativa ao suicídio. Resistir sem ser alienado ou drogado é possível, mas custa muito, é preciso força e determinação. Eu que não tenho inclinação para drogas e recuso a alienação consumista, contemplo o mundo pela óptica da literatura. Ler é uma forma de resistir e manter a esperança.