Procuro no Estadão alguma referência ao socorro que o governo vai dar à mídia. Vai dar contra a vontade, vai dar porque se não der, as denúncias continuarão pipocando, até que o desgoverno se instale definitivamente, com conseqüências imprevisíveis. Nem uma linha foi escrita, com clareza, apenas insinuações leves sobre ter havido chantagem. Quem conhece o ministro José Dirceu, sabe ser ele uma espécie de cruzamento entre um trator e Joseph Stálin. A capacidade de trabalho herdou do trator. José Dirceu não conhece tempo ruim, é um autêntico pé de chumbo, trabalha para valer, pode-se dizer sem errar que se não existisse José Dirceu, não existiria o PT e jamais um torneiro-mecânico seria guindado à presidência do país. Do ex-lider soviético, herdou a truculência. Dirceu acostumou-se a atropelar quem estiver em seu caminho, seus desafetos sabem ao que estou me referindo, esmaga as oposições sem piedade, não leva desaforos para casa e não esquece uma afronta. Essas qualidades e defeitos tornaram-no um dos homens mais poderosos e temidos do país, até a fatídica sexta-feira treze, quando o seu protegido, Waldomiro Diniz, foi flagrado com a boca na botija. Flagrado, filmado e escrachado. Uma pergunta não sai da minha cabeça e não vou encontrar resposta para ela na mídia, que será beneficiada com os acontecimentos. A verdade é relativa, serve apenas para certas ocasiões. E para os inimigos. O que fica claro, é que se existe algum poder neste país, está nas mãos dos que têm informações. Informações que possam ligar pessoas poderosas a escândalos. A denúncia contra o operador Waldomiro Diniz teria sido a maior das imprudências, sabendo-se que o principal atingido, José Dirceu não é de enfiar a viola no saco. Seria como dar um soco na cara do Maguila. A retaliação seria certa, como são a morte e os impostos. Aliás, antes do caso, tanto Dirceu como o presidente do BNDES, Carlos Lessa, afirmavam que socorrer a mídia estava fora das cogitações governamentais. Ao atacar Dirceu de forma indireta e dependendo como ninguém da boa vontade do governo, a Globo parecia ter dado um passo rumo ao precipício. O desdobrar dos fatos mostra que não foi bem assim. O governo, subitamente, mudou de idéia e já está providenciando o socorro, vai pagar as dívidas do conglomerado dos Marinho, as públicas e as que não conhecemos. Dirceu, apunhalado na jugular, acabou politicamente. Está morto, o enterro é questão de tempo. Ele jamais voltará a ser o que foi. Doravante será apenas um deputado, desacreditado. Sempre que encontrar alguém da família Marinho, seus algozes, vai sorrir humildemente. Acabou a era das bravatas. O poder é definitivamente dos donos dos dossiês, das informações estratégicas. A Globo sabe de coisas que o governo não cogita ver divulgadas. Colocou Lula de quatro, a seu serviço. Resta saber se um dia teremos acesso aos segredos que enterraram José Dirceu e ameaçaram derrubar o presidente. Provavelmente não. A crise acabou. Depois do cofre aberto, ou melhor, arrombado, não haverá mais denúncias. Se o governo não temesse, não pagaria. Deixaria a Globo quebrar. Sozinha ela jamais sairia da crise. O que será que o governo tanto teme, para permitir chantagem tão clara e cristalina?
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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