Acabou o calor senegalesco termo que faz referência ao Senegal, país do qual chego a duvidar da existência. Alguém já foi ao Senegal? Você conhece alguém do Senegal. Legal é ser negão no Senegal diz a música, mas aposto que o autor, que é baiano, nunca foi ao Senegal, onde faz um calor senegalesco, dizem... Por culpa do calor liguei para o meu amigo Pedro Paulo para assuntos gerais e literatura, em especial sonetos, estou escrevendo sonetos embora ainda não tenha escrito nenhum. Entre quartetos, tercetos e dengue, Pedro Paulo pegou dengue e ficou de molho, falei da minha intenção de tentar uma solução mágica para atrair chuva. Nesse dia estávamos há trinta e um dias sem uma gota, uma mísera gota de chuva. Quando contei em São Paulo as pessoas riram e depois bateram nas minhas costas amistosamente: esse cara é engraçado, conta cada uma. Ubatuba sem chuva. Hi, hi, hi... Pois é sem chuva. Há trinta e um dias. Tomei uma providência. Comprei um artefato indígena que atrai chuva. Dos índios mesmo, não é da 25 de março. Um tubo com conchas dentro, que ao ser virado faz barulho de conchas se chocando. Os índios afirmam que é exatamente esse o barulho da chuva. Para mim parece ser exatamente o barulho de conchas se chocando, mas quem sou eu para contestar a sabedoria silvestre dos povos da floresta e produtos afins. Se eles dizem que parece chuva, parece chuva. De posse da ferramenta fiz algumas danças rituais no quintal de casa. Não funcionou. Nesse momento prevaleceu a sabedoria caiçara de Pedro Paulo. Ele me disse que não funcionaria se eu não estivesse pelado. Esperei a empregada ir embora, tirei a roupa e fiz a dança exatamente como faziam os Sioux. Meu cachorro entrou no clima, dançamos e rodopiamos fazendo barulho com o artefato e gritando palavras mágicas. Eu gritando e o cachorro latindo, por óbvio. Espero sinceramente que ninguém tenha filmado, foi meio grotesco, mas o que importa é que funcionou. A chuva está aí e o calor arrefeceu um pouco. Muito calor é perigoso, amolece os miolos e isso em Ubatuba pode ser catastrófico. Tenho dito...
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
|