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COLUNISTA
Sidney Borges
13/02/2007 - 20h39
Compre, logo exista...
 
 

Houve tempo em que era bom ter muitos filhos. Na verdade, necessário. A maior parte das atividades humanas era feita com as mãos. Novos braços eram sempre bem-vindos. Tempos difíceis em que se vivia pouco e morria-se com facilidade. Na Alemanha do compositor Johan Sebastian Bach. (1685-1750) a expectativa de vida não ultrapassava vinte e dois anos. Famílias que começavam numerosas logo estavam reduzidas a alguns sobreviventes. Hoje vivemos mais graças aos conhecimentos que adquirimos matando semelhantes. O ser humano é assim, tem um defeito de fabricação que o impele a matar. Experimente assistir à programação da TV paga, que exibe séries feitas nos Estados Unidos, país mais rico do planeta. É só violência, o tempo todo uns matando os outros em nome da liberdade. De matar. Dessa compulsão nasceu uma indústria farmacêutica que, para curar os feridos de guerra e torná-los aptos a continuar matando e sendo feridos ou mortos, acabou beneficiando a espécie. Os antibióticos nos livraram de morrer de espinhas infeccionadas, como o filho da rainha Vitória. Atualmente os humanos têm o privilégio de ficar velhos para morrer de Alzheimer, moléstia que antigamente era confundida com possessão demoníaca e condenava ao hospício. Na verdade a sina do homem é essa, se sobreviver aos ímpetos juvenis e escapar das balas perdidas e dos excessos das baladas, não haverá com evitar o câncer, a demência ou o infarto. Estamos irremediavelmente condenados. Neste planeta quem não está para nascer está para morrer, o que pode até demorar um pouco, mas é certo e inevitável. Voltando às famílias numerosas, hoje não há sentido em ter uma. Criar filhos é difícil e caro. A mãe de dois dos rapazes envolvidos no assassinato do menino, no Rio de Janeiro, gerou cinco filhos. O mais velho e possível mentor da barbárie tem vinte e três anos e algumas passagens pela polícia. Cursou até a sexta série e abandonou a escola. Não tem profissão nem ocupação definida. Vive perambulando pelas ruas. Seu irmão, de dezesseis anos, cursou até e quinta série e está fazendo capacitação com o "brother" para ingressar no sistema prisional e tirar diploma de delinqüente. Quantos mais estão nesta situação? Milhões, certamente, embora a maioria tenha boa-índole e viva honestamente, o que nos dá esperança. Dificuldades econômicas e sociais não são desculpas para arrastar alguém até a morte. A contradição maior do sistema está na indústria do marketing que impele compulsivamente ao consumo, mas não fornece subsídios para que este se materialize. Quem não consome não é ninguém diz o anúncio do "American Express". Mostre o seu cartão, compre, exista. Como consumir sem ter de onde tirar dinheiro? Trabalhando não dá. Os empregos são raros e pagam pouco. Simples, tirando dinheiro de quem tem dinheiro. Bingo. Fico imaginando o que aconteceria com a Austrália, onde um lixeiro ganha mil e duzentos reais por semana, se, de repente, cento e cinqüenta milhões de brasileiros desembarcassem por lá. Não sobraria canguru para contar a história. Resolver a questão social do Brasil não é tarefa fácil. Melhor empurrar para baixo do tapete, como vem sendo feito desde que os escravos foram libertados. Libertados?


Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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