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COLUNISTA
Sidney Borges
07/12/2006 - 09h01
Besouros e sinos
 
 
Sidney Borges 

Hoje pratiquei uma boa ação, como faço todos os dias desde 1956 quando participei de um grupo de “lobinhos do ar” no Grupo Escolar Orestes Guimarães, em São Paulo. Lembrei-me da escola por causa do Seu Nabuco, o zelador, que completou oitenta anos naquele ano. Teve uma grande festa, com jogo de tômbola e teatrinho de fantoches. Lembro-me como se fosse hoje, eu estava distraído pulando amarelinha quando percebi que no ar havia um sussurro, um disse me disse. Logo me contaram que seu Miguel, o dentista, foi flagrado beijando a professorinha substituta, a loirinha sorridente que deixava os pais sem fala quando iam buscar os filhos. Seu Miguel era casado. A mulher dele, dona Berta, não ligou, ela só pensava em Jesus, não saia da igreja. Estava sempre pra lá e pra cá com o padre Eustáquio. Quem ficou uma fera foi a dona Lazinha da loja de discos, mãe do Arturzinho. Quando ela soube deu com a bolsa na cabeça do seu Miguel e chamou a professorinha de marafona. Seu Nabuco tinha a incumbência de bater o sino na hora da entrada, no início e no fim do recreio e na hora da saída. Ele era negro, alto e tinha a cabeça branquinha e gostava muito de passarinhos. Quando não estava puxando a cordinha do sino era sempre visto com uma gaiola nas mãos. Também gostava de fazer apitos para chamar passarinhos. Eu o considerava uma espécie de sábio, só um gênio seria capaz de fazer aqueles apitos, que depois de prontos e testados eram envernizados com todo o cuidado. Mas o que eu ia dizer não tinha nada a ver com isso. É que na noite passada eu sonhei com a escola, ou melhor, com a porta da escola onde eu me encontrava comprando quebra-queixo. Como estivesse faltando uma moeda de quinhentos réis, seu Nabuco me emprestou um passe da CMTC, o que deu no mesmo. Ele continua igualzinho, pelo menos no sonho, o que prova que os sonhos não sofrem a ação do tempo. Voltando à boa ação, hoje cedo encontrei um besouro na varanda. Quando o examinei, percebi a belíssima coloração metálica de seu dorso. Coloquei-o sobre uma prancha de fórmica branca para fotografá-lo. Ele estava com as pernas encolhidas, envoltas em fios de teias e poeira, parecia morto. Limpei-o cuidadosamente e fui preparar o tripé para conseguir uma foto detalhada. Quando retornei tive uma surpresa, ele havia estendido as patas da frente. Com a ponta da lapiseira, com muito cuidado, toquei em uma das patas e ele a encolheu. O bicho estava vivo. Imaginei que estivesse com sede, embebi um pedaço de algodão em água e coloquei em sua frente onde supostamente é a boca. Depois de alguns minutos ele não só estendeu todas as patas como também andou uns dez centímetros. Preparei a câmera e tirei algumas fotos. Depois saí para dar aulas. Quando retornei, ele não estava mais. Partiu. Onde andará? Ou melhor, onde voará? Como tudo na vida é relativo, imagino que ele esteja grato por eu ter salvado a sua vida, no entanto pode ser que eu tenha atrapalhado um sono profundo, algum tipo de hibernação. Eu sei que ursos hibernam. Será que besouros também hibernam? Eu ia me esquecendo do rebu da escola, o marido da dona Lazinha, aquela que bateu com a bolsa na cabeça do seu Miguel, foi embora de casa um mês depois. Fugiu com o Albertinho da doceira, que era bailarino da TV Record. Como a vida era confusa em 1956.


Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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