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COLUNISTA
Sidney Borges
02/11/2006 - 18h09
Processos e processos...
 
 

O senador José Sarney terá um papel definitivo na história do Brasil. Sem ter provas do que dizem que fez de errado, tenho uma visão clara do papel que representou na consolidação da Democracia no Brasil. Para mim é isso que vai ficar, o lado controverso será esquecido. Tancredo Neves foi eleito pelo Colégio Eleitoral, proibido para petistas e que custou a carreira política de Airton Soares e Bete Mendes, que ousaram ir contra a determinação do PT e foram expulsos do partido. Naquela época a Guerra Fria andava à toda e o Muro de Berlim permanecia forte e altaneiro. Não eram poucas as vivandeiras buliçosas que aos bivaques sopravam idéias estranhas nos ouvidos dos granadeiros. A Democracia estava por um fio. Tancredo morreu. Sarney, que era o vice, assumiu e apanhou. E como apanhou. Todos batiam nele, o PT espancava, Collor ultrapassou todos os limites da educação ao falar do presidente e a imprensa não ficou atrás, bateu a não mais poder. Sarney sabiamente, com a inspiração dos grandes políticos a tudo suportou e assim conseguiu passar a faixa presidencial ao sucessor. Agora no ocaso da existência, no fim da vida e da carreira parece que mudou de métodos. Na última eleição teve um papel lamentável ao atacar a adversária. Sobre o velho Sarney e a sua legendária tolerância, o jornalista Ricardo Noblat tem uma história interessante:

Lembrei da minha mãe que já morreu.

Nos anos 80, como colunista do Jornal do Brasil, bati duro no governo Sarney.

Meu tio, dom José de Medeiros Delgado, fora arcebispo do Maranhão por mais de 20 anos. Casara Sarney com dona Marly, batizara os três filhos deles e casara Roseana.

Estava morrendo em uma clínica do Recife e minha mãe velava por ele quando tocou o telefone do apartamento. Era Sarney, então presidente, querendo notícias.

Quando minha mãe se identificou como Eunice Noblat, Sarney perguntou:

- O que a senhora é de Noblat?

- Sou mãe dele.

E, rapidamente, minha mãe acrescentou:

- Mas gosto muito do senhor e ouço sempre seu programa semanal no rádio.

Sarney espalhou a história em Brasília por meio do colunista Carlos Castelo Branco, o Castelinho do Jornal do Brasil.

- Você não gosta de Sarney, mas sua mãe gosta - disse-me Castelinho brincando.

- A senhora ouve o programa do presidente no rádio? - perguntei a minha mãe quando a encontrei no Recife.

- Raramente - ela respondeu.

- E por que a senhora disse ao presidente que ouvia?

- É para que ele se lembre do que eu disse se pensar um dia em lhe fazer algum mal - respondeu.

Sarney nunca me fez um mal. Foi o presidente da República mais tolerante a críticas que conheci.

Uma vez, escrevi que o governo dele estava ameaçado por um mar de lama capaz de dar inveja ao mar de lama que tragou o governo de Getúlio Vargas. Exagero, admito, à luz do que vi depois.

Sarney chamou Sepúlveda Pertence, então Procurador Geral da República, e disse que eu ultrapassara todos os limites e que deveria ser processado.

Pertence deixou o assunto esfriar. Depois de alguns dias consultou Sarney:

- É para processar mesmo o Noblat?

- Deixa pra lá - respondeu Sarney.

Saudades de dona Eunice...

Como eu afirmei no início deste texto, Sarney é um político maior. Quando a estatura dos homens públicos é de cota mínima, a coisa é diferente.

Qualquer crítica é razão para processos. Os que agem assim não passarão para a história. Ficarão reduzidos ao seu lugar: a insignificância...


Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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