O Litoral Norte de São Paulo jamais será o mesmo. A construção da unidade de processamento de gás natural da Petrobras prevista para Caraguatatuba e o corredor de exportação que ligará Campinas a São Sebastião transformarão a região de modo radical. Especula-se que Caraguatatuba poderá se tornar em breve uma nova Macaé que conta hoje com 152 mil habitantes e possui um PIB (soma de todas as riquezas produzidas no município) de R$ 4,1 bilhões oriundos da exploração do petróleo pela Petrobras. Entretanto, caso o investimento em infra-estrutura da região não seja compatível com o crescimento econômico alguns problemas crescerão em progressão geométrica como falta de moradia, violência e trânsito. Será inevitável a construção de indústrias de apoio e galpões de armazenamento na região. Conta-se que Paganini, provável maior violinista virtuoso de todos os tempos, feio e magérrimo, impressionou seu futuro sogro ao tocar uma música que não conhecia com a partitura de cabeça para baixo. Dentre suas composições mais espetaculares está O Moto Perpétuo, sonho de qualquer físico, Paganini conseguiu reproduzir na música o que a mecânica ainda não conseguiu, ou seja, a máquina de movimento contínuo cuja energia jamais se dissipa. Como o Moto Perpétuo de Paganini, o Litoral Norte deverá se transformar numa máquina de movimento contínuo sem deixar a energia do gás se dissipar e se transformar em problemas. O corredor de exportação – duplicação e construção de novos trechos de estradas ligando Campinas a São Sebastião – depende de licenciamento ambiental, o que deve ocorrer em apenas um ano, segundo previsão do governo. As mudanças estão próximas e não estão sendo encaradas com a devida preocupação. Todas prefeituras da região devem estar afinadas com o planejamento preparando-se para esse futuro tão próximo, caso contrário poderemos assistir a um crescimento desordenado sem precedentes. Chegou a hora de nos preocuparmos com a qualidade do crescimento do litoral. Investimentos nas áreas de saúde, educação e segurança serão essenciais. Outro dia, um amigo meu, apreciador de esfihas, me pediu para fazer uma lista com as melhores esfihas de São Paulo, segundo minha opinião. Quando terminei a listagem me surpreendi com a quantidade de lugares que eu conhecia que produzem essa iguaria com boa qualidade. Pesquisei e descobri que a maioria delas é assada em um bom forno a gás. As prefeituras das cidades do Litoral Norte que se preparem, quem conseguir tocar com a partitura de ponta-cabeça, descobrir o moto perpétuo e fizer a melhor esfiha com nosso gás contribuirá para que Evo Morales volte para sua tribo aymará e o Litoral Norte ingresse no primeiro mundo. É só uma questão de afinação e paladar.
Nota do Editor: Ricardo Yazigi é engenheiro civil, mestre em ciências pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
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