Plutão foi rebaixado. Não é mais planeta, é planetinha. Sinceramente, sou contra a decisão. Pluto, como é grafado na língua inglesa, me deu um enorme trabalho na adolescência. Explico melhor. Na época do ginásio tínhamos de decorar os planetas do Sistema Solar. Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão. A professora de Geografia costumava pedir, pela ordem, as serras do Maciço das Guianas, os afluentes do terceiro igarapé do Tapajós e os planetas. Especialmente os planetas. Quem não soubesse tirava zero. Tirei uma coleção. Dava para colocar um fio, fazer um colar e ainda sobravam argolas para os brincos. A maioria por culpa de Plutão, eu sempre esquecia a existência do planetinha. Até que um dia decorei. Veio assim de repente. Download cósmico. Tudo junto, o Sistema Solar e as serras. Os afluentes ainda estão a caminho. Tumucumaque, Acaraí, Parima, Paracaima e Taperapecó. Tal conhecimento, firmemente estabelecido nos escaninhos de minha memória, não teve serventia para que eu melhorasse de vida. Salvo em 1983 quando estive na Amazônia fazendo uma matéria para uma revista francesa. Na ocasião sobrevoei o maciço tão decantado. Minha alegria foi tamanha que os pilotos do helicóptero me imaginaram maluco. O co-piloto, um francês que mal falava português teve certeza. Depois daquele vôo, sempre que me via punha a mão na camisa feito Napoleão. Sujeito desagradável. Espero que não continuem mudando os planetas. Acabei de fazer um curso de astrologia por correspondência e vou ter de esquecer o capítulo que trata das influências de Plutão. Uma vez rebaixado ele já não vai causar desgraças e cataclismos, nem provocar brigas conjugais. Nesse quesito até que a providência foi boa.