Vamos entender direitinho. Armando Mellão Neto (PMDB), ex-presidente da Câmara Municipal de São Paulo foi preso, acusado de extorsão, exploração de prestígio e posse ilegal de armas. Segundo o delegado da Polícia Federal, Wagner Castilho, Mellão, para impressionar "clientes", usava os nomes do senador Antero Paes de Barros (PSDB) e do deputado José Mentor (PT), da CPI do Banestado.

Ele afirmava ter poder para fazer com que as investigações da CPI não atingissem os extorquidos.

Foi preso numa armação que envolveu o ex-secretário de obras de Maluf, Reynaldo de Barros, de quem teria tentado extorquir pouco menos de 600 mil reais.

Se não fosse trágico, seria cômico. Apanhado em flagrante num flat em São Paulo, com 50 mil reais em dinheiro e um cheque nominal de 531 400 reais, reagiu dizendo que estava ali apenas para tomar café, o dinheiro ele não sabe a quem pertence.

Sobre o cheque, saiu-se com esta: - bem, esse cheque, não imagino como veio parar aqui! A Polícia Federal estava investigando o ex-vereador há quatro meses. Foi decretada prisão temporária por cinco dias, prorrogáveis por mais cinco, ficando o ex-nobre vereador sob a custódia da PF.

O fato é esse. Agora vamos ao que está por trás. Teria ele conseguido extorquir alguém?

Se o fez, a vítima deve ser investigada. Não haveria razão para a extorsão se não houvesse o que esconder. Tem sido comum, nos casos de corrupção, imputar a culpa apenas aos corruptos, ficando os corruptores impunes.

Corrupção é um crime que envolve as duas pontas de uma corda. No Brasil, onde tudo é possível, existem cordas especiais, de uma ponta só.

Sempre é bom lembrar do caso PC Farias, operador do ex-presidente Fernando Collor de Mello. PC levantou muito dinheiro, dado de bom grado por empresários que pretendiam obter vantagens.

Nenhum dos empresários cúmplices foi punido. PC sabia demais, acabou silenciado.

Aliás, silenciar quem sabe está ficando comum. No affair Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André, são muitas as mortes; além do próprio, cinco testemunhas.

É coincidência, dizem os que querem que acreditemos que não houve motivação política na morte do político. Pode ser que estejam certos. Mas, que é muita coincidência, é inegável. A imprensa deve ficar atenta aos desdobramentos da CPI do Banestado, é a mais importante já instalada no país.

Poderá, além de colocar na cadeia corruptos de alto escalão, dificultar a prática de superfaturamento de obras públicas e de lavagem de dinheiro. O montante desviado através das contas CC-5 é significativo, 30 bilhões de dólares.

Daria para ajudar o Brasil a sair da monumental inércia em que se encontra.

Caso essa CPI não tenha a devida cobertura, vai acabar em uma iguaria da culinária mediterrânea, como costumeiramente ocorre nas investigações que envolvem os poderosos do País Tropical.

Massa de farinha de trigo, água, sal e fermento. Depois de descansar a massa deve ser esticada e levada ao forno, coberta com molho de tomate, muzzarella e manjericão.

Uma delicia!