Sobre as muitas incertezas referentes ao último pleito presidencial, há um dado de aparência consistente, presente em todas as pesquisas de opinião: “quanto mais pobre o eleitor, maior sua tendência a votar no candidato de esquerda”. No entanto, o dado pesquisado mostra outra coisa: sociedades esquerdistas empobrecem. O esquerdismo gera miséria e não por acaso os estados mais pobres do Brasil são governados pela esquerda. Não é difícil imaginar o motivo. Eu mesmo me encontrei com esse dado sempre que, em campanha eleitoral ou em debates, entrava em pauta a chaga social da pobreza. Sobre esse tema, como se verá a seguir, o esquerdismo tem um discurso redondinho, uma explicação simples que leva seu público alvo diretamente ao cativeiro da pobreza e da dependência. Todo brasileiro que passou por uma sala de aula ouviu de alguns militantes travestidos de professores que os pobres são pobres por culpa dos ricos; ou na versão mais safada, que os ricos são ricos graças à pobreza dos pobres. Isso, porém, é falso, como mostra a experiência dos países de economias livres. As causas reais da pobreza são: 1. a carga tributária em que o Estado se apropria de mais de um terço de toda a renda nacional; 2. a turma da corrupção ativa e passiva e das empresas gigantes nacionais que se abasteceram durante década e meia diretamente do PIB; 3. os países satélites do nosso BNDES, usado para financiar essa parceria ideológica esquerdista a fundo perdido; 4. nossos gravíssimos problemas institucionais que facultam ao Estado toda sorte de abusos; 5. o fato de nossa Constituição, em vez de proteger os cidadãos do Estado faz o inverso e protege o Estado dos cidadãos; 6. o patrimonialismo, o populismo, os corporativismos e os supersalários, o culto ao estatismo e os múltiplos desestímulos ao emprego formal; 7. a má qualidade da educação oferecida aos nossos jovens em geral e aos segmentos de baixa renda em ainda pior padrão paulofreireano; 8. a publicidade enganosa segundo a qual a salvação possa vir da mão grande do Estado. De modo muito especial, a relação erótica da esquerda com o Estado induz a leituras erradas de nossos problemas sociais. Não, eles não se resolvem com mais Estado! Tal rumo afasta um elemento altamente humanizador, omite conhecimento precioso sobre a natureza e solução dessa chaga que é a pobreza persistente: naquilo que somos está nosso maior potencial e nossa maior alavanca para resolvê-la. Nota do Editor: Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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