(Para ser lido após "Fernanda aos sábados") Sete e quinze
A boca seca e com gosto de cabo de guarda-chuva. Aperta com força o resto de creme de barba no tubo. Joga um pouco de água gelada na nuca para ver se espanta a ânsia. O que se passou entre a saída da casa dela e a volta para a sua, só perguntando a alguém. Da próxima vez já sabe: depois do sexo e do álcool, junk food na veia - e rápido. Nada de comida japonesa. Sete e vinte e três No lóbulo da orelha esquerda, em lugar de batom, achou um machucadinho com uma casca seca de sangue. Ela é o Tyson atacando o Holyfield quando está querendo muito. Nove e dez Um blend de uísque com energético. Para os excessos de álcool, mais álcool. Tropeça sem saber se é efeito da ressaca ou do novo pileque. Pede para a Alexa tocar Hound Dog. Meio dia e cinquenta e dois Ligam da portaria, entrega da 5àSec. E aquele peixe cru subindo e descendo, sem se resolver. Nunca mais. Nunca mais mesmo. Uma e quarenta Só mais uma dose para afogar de vez o peixe ainda vivo no aquário do estômago. Quinze e trinta Danilo dorme. Dezenove e cinco Danilo ronca. Vinte e duas e vinte Danilo vira-se para o outro lado da chaise e ronca mais alto. Vinte e três e cinquenta e seis Acorda. Amanhã vem a segunda e seu nojo tedioso. Mas qualquer segunda é um alento quando a ideia é livrar-se do domingo à noite. Esta é uma obra de ficção.
Nota do Editor: Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário em Campinas (SP), beatlemaníaco empedernido e adora livros e filmes que tratem sobre viagens no tempo. É colaborador do jornal O Municipio, de São João da Boa Vista, e tem coluna em diversas revistas eletrônicas.
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