· Coisas do Museu Caiçara
Fátima Aparecida Carlos de Souza
articulista@ubaweb.com
Naquele final de semana, as pessoas não tinham muita opção de lazer. Era um domingo cheio de vento. Até que a notícia de uma apresentação circense chegou à mesa em que todos lá de casa almoçavam. O início, previsto para as duas horas da tarde. A vizinha descrevia eufórica a arena cercada pelas arquibancadas. Também seriam servidos salgadinhos, doces, e guloseimas irresistíveis a qualquer criança.
Assim começou a expectativa quanto ao Sítio Sapezinho, que até então eu só sabia que existia porque morava lá o seu Luiz Ernesto Kawall, um sujeito que dava serviços de jardinagem para meu avô e vivia tirando a paciência de minha avó para que trocasse o oratório cheio de santos que ela tinha em casa por qualquer coisa que quisesse.
O tempo passou, certo dia veio o convite para a inauguração do Museu do Bairro. O Museu do Tenório, o Museu Caiçara, idealizado pelo caiçara ubatubense, Praxedes Mário de Oliveira, e pelo jornalista Luiz Ernesto Kawall, foi inaugurado em 1983. A história dos bairros do Itaguá, Tenório, Ponta Grossa e adjacências era contada através desse espaço cultural. O Museu realizou 14 Festivais de Viola e inúmeros encontros caiçaras onde se apresentavam os grupos folclóricos regionais, sempre cercado de violeiros e turistas que apreciavam a cultura caiçara.
A festa rolou o dia todo. À tarde, os artistas deram uma palhinha no palanque montado no jardim. Lá estava eu. Quanta gente importante! Falavam de coisas que eu não compreendia; mas pareciam entender e apreciar aquele monte de coisas velhas. Tralhas tão comuns no dia-a-dia, colchas de retalhos feitas pela Dona Ritinha, barcos e canoinhas feitas pelo meu avô "Rita", potes de barro, ferros de passar à carvão, utensílios de ferro para cozinha, oratórios com imagens de santos rodeados de muitas flores encardidas. Nessa ocasião foi que avistei vários álbuns de fotografias. A maioria das pessoas antigas que eu conhecia estava lá.
Por treze anos o Museu Caiçara foi ponto de atração no bairro do Tenório. Posteriormente, o museu foi transferido para a AAMUC - Associação dos Amigos do Museu Caiçara e suas instalações transferidas para uma área em terreno do Projeto Tamar-Ibama, onde funciona atualmente. Reportada às formas das antigas construções, a estrutura do Museu Caiçara é de pau-a-pique, também chamada de taipa de mão, construída pelo mestre construtor Jorge Inocêncio Alves que fez sua estrutura básica de madeira bruta lavrada à mão e fincada nos extremos. No meio das paredes um trançado de jiçara, unidos entre si pela casca de um cipó chamado imbé. O barro aplicado sobre esse trançado, previamente hidratado e amassado com os pés. O piso é de moedo - mistura de argila com cinza, em quantidades ideais que, após socado, forma o chão do nosso museu.
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Como um tributo à memória de Ubatuba, foram utilizados na construção do museu materiais oriundos de construções antigas: as telhas são da Fazenda Velha, as bandeiras que adornam as laterais são do antigo Hotel Felipe e as vigas e portas de canela da Casa Vigneron do bairro do Itaguá.
Hoje, o museu é dirigido por uma associação de cuja diretoria faço parte juntamente com outros ubatubenses de reconhecida atuação na vida cultural da cidade, como o artista plástico, João Teixeira Leite. 
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· PORQUE A COMTUR?
O Guaruçá
guaruca@hotmail.com
Para iniciar, vamos bater em algumas teclas já desafinadas:
1° - Ubatuba é uma cidade turística.
2° - Apesar da crise nacional e internacional o turismo está entre os três seguimentos que mais crescem economicamente no mundo.
3° - Para existir retorno turístico é necessário uma exploração inteligente.
Isso posto, perguntamos: quem é o responsável pelo turismo em nossa cidade?
Resposta: A Companhia Municipal de Turismo (COMTUR), sociedade mista...
Em qualquer área de trabalho a exigência de mercado reza planejamento e execução racional, obrigando uma especialização cada vez maior das pessoas. É razoável que um elemento possuidor de um preparo adequado ou uma experiência comprovada tenha mais chances de sucesso, digamos assim, que um leigo. O que nos leva à discussão em pauta.
A nossa COMTUR é formada por... E tem em seu quadros elementos experientes. Mas, por mais boa vontade, empenho, e porque não dizer sacrifício, já que os dirigentes tornam-se alvo de críticas procedentes ou não, observa-se, comprovadamente, que isto não vem sendo o bastante.
Somente com a participação ativa dos segmentos relacionados com a atividade turística conseguiremos desenvolver, com sucesso, um trabalho real. Por competente que seja o nomeado, é impossível que ele possua uma visão total sobre a atividade turística e seus multi fatores envolvidos.
Está claro, festa após festa, evento após evento, que nosso turismo carece de mais, necessita arrojo, audácia. - Mas como? Com que verba? Bem, as possibilidades existem, estamos vendo por aí afora casos de sucesso na exploração turística.
Por outro lado, a carência da cidade é competência da administração municipal, que se obriga a exigir um bom nível de trabalho de seu quadro funcional, já que é possuidora do poder de nomear e exonerar. Bem, se a saúde, a educação, a infra-estrutura, o bem-estar social e outros que formam a vida de um município são geridos pela administração pública, porque o turismo não ter igual tratamento?
Será este fardo tão pesado? Não, uma administração municipal possui uma estrutura definida o que facilita a criação de mecanismos para execução de determinados trabalhos. Embora sabendo-se que ela não realiza sozinha.
Resumindo, é imprescindível a colaboração de todos. Aí, com bom senso, humildade e capacidade gerencial, certamente conseguiremos realizar um bom trabalho turístico, cujos bons frutos poderão ser repartidos comunitariamente.
Ubatuba, se quiser realmente ser beneficiada pela indústria do turismo a nível nacional e internacional, tem que superar e modificar, sabe-se lá como, a tacanha e antiquada fase que atravessa, com sua população obrigada a conviver e a aceitar. Incrivelmente, é comum escutar-se dos sabichões promotores de eventos: "nu próximu ano nóis tem qui fazê uma festa di Sun Pedro mais maió i mió. Vamu trazê di San Luí um pau di sebo bem grandi. Vamu ponhá im cima uma moeda di um rear. Quem conseguí subí sozinho i pegá fica cum ela. I num vai valê usá arami farpiado nus pé. Ocês vão vê só qui sucesso qui vai sê. Vai vim turista di muntão di Tarbaté, di Natividade, di Jambêro, di Areia, di Munteiro Lobato. Vai vim genti inté du sur di Mina. Aí nóis vai vendê tainha assada das bem gorda, pegada nas boca di esgoto das beradas. Vai tudo mundo ganhá um dinherão prá pudê sustentá a famía u anu intêro. E vamu também ressussitá u campionato di istilingue e ponhá uma istátua do santu nu mercadu di pexe. Vamu pintá di verdi i amarelo u casarão e fantasiá os funcionário de Tiririca. Nói vai fazê coisa qui ocês inté num cridita. Quem vai pagá são us empresário i u povo vai entrá di graça. I agora peçu uma sarva di parma pru nossu deputadu." E a multidão vestida com a camiseta do candidato grita já ganhou, degusta o oferecido churrasco de gato, bebe a pinga, aplaude e pede bis. É rir para não chorar!
Como diria o Zé Simão na Folha de São Paulo: "nóis sofre, mas noís goza." 
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