- Bom dia. Sou o Personal Killer que o senhor contratou. - Ah, sim. Entre. - Já vou adiantando que, se a tentativa de suicídio falhar, nós devolvemos o dinheiro. Pra ter direito ao reembolso tem que apresentar prova de vida. Você passa por uma perícia e, se comprovado que ainda faz parte deste mundo, o dinheiro é liberado. - Empresa? Ué, pensei que você trabalhasse por conta própria. Personal costuma ser autônomo, né? - Não, eu sou funcionário. Quem me dera a empresa fosse minha, com essa demanda de suicídio eu estava rico. A firma é uma franquia grande. O que não falta é suicida em busca de instruções confiáveis. Estou vendo aqui que o senhor optou pelo plano Suicide Mentoring Plus, que tem vários módulos: forca, gás de cozinha, formicida com guaraná, harakiri, sufocamento, corte de pulso, coquetel de anfetaminas e tiro. - Isso. - O curso engloba ainda um guia “Faça você mesmo”, caso prefira o formato não assistido na hora derradeira. - Mas todo suicídio é um ato solitário! É o tipo do espetáculo que não é legal ter plateia... - Depende. Tem gente que prefere algum profissional nosso ao lado acompanhando tudo, pra ter certeza de sucesso. Por exemplo, o tiro no ouvido ou no céu da boca. Se fizer direitinho, seguindo o passo-a-passo que tá lá na apostila, não tem erro. É óbito assegurado e sem dor. - Como assim, sem dor? O cara arrebenta os miolos e não sente nada? - Pouca gente sabe, mas o cérebro não sente dor. Toda dor, pra existir, tem que passar pelo cérebro, mas ele mesmo não sente nenhuma. Agora, se você não atinge em cheio o cérebro com o tiro, vai sentir dores horríveis depois, porque vai sobreviver. E, todo dolorido, vai tentar se matar de novo pra não passar a vergonha de ser chamado de suicida fracassado. Pensa bem: alguém que decide se matar já é um derrotado, se fracassar na tentativa então... - É... - Nós garantimos a mentoria para ir dessa pra melhor e também a assistência de um mentor espiritual quando já estiver do outro lado. Temos todo um staff de desencarnados para receber nossos clientes no além-túmulo. - Bacana. Bom, vamos lá... onde é que eu assino o contrato? - Aqui nessa cruzinha... Esta é uma obra de ficção.
Nota do Editor: Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário em Campinas (SP), beatlemaníaco empedernido e adora livros e filmes que tratem sobre viagens no tempo. É colaborador do jornal O Municipio, de São João da Boa Vista, e tem coluna em diversas revistas eletrônicas.
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