Que o fio dental, entendido como traje de banho feminino, colaborou e continua colaborando verões a fio (ops!) na reprodução da raça humana, não é novidade para ninguém. Mas saiba o leitor que em tempos pré-históricos, um outro tipo de fio dental (aquele mesmo, que faz assepsia entre os dentes) também teve papel preponderante para que chegássemos a quase 8 bilhões de habitantes neste século 21. Imagine carne de javali, búfalo, bisão, capivara, bicho-preguiça, mamute, mastodonte e o que mais aparecesse pela frente - em nacos e fiapos tão entranhados entre os dentes quanto a tirinha de lycra enfiada entre os glúteos da empoderada “mulher sapiens” de hoje. Isso logicamente causava a repulsa feminina quando da aproximação do macho, nojinho perfeitamente compreensível mesmo na época das cavernas. Aqueles resíduos de animais defuntos, crus ou muito mal cozidos, ali nos intervalos dos incisivos, convidavam a tudo - menos a uma generosa noitada de amor. Até porque nada pode ser mais antiafrodisíaco do que um cavernoso mau hálito. Vai daí que, para autorização do casório, o macho pretendente tinha que apresentar ao pai da noiva, como dote, metros e metros de fio dental, preferencialmente da marca Dinojohnson & Johnson. Quanto mais metros, melhor, pois a ideia seria servir, por décadas, à higiene dental da futura e numerosa família, incluídos aí cunhados e sogros. Se a cobiçada mercadoria viesse acompanhada por alguns frascos de desodorante Tiranossauro Rexona ou de creme neandertal com flúor, aí então era a glória para o candidato a marido. Esta é uma obra de ficção.
Nota do Editor: Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário em Campinas (SP), beatlemaníaco empedernido e adora livros e filmes que tratem sobre viagens no tempo. É colaborador do jornal O Municipio, de São João da Boa Vista, e tem coluna em diversas revistas eletrônicas.
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