Arquivo ER | |
Ela nunca gostou de fogos de artifício. Na época em que foi resgatada das ruas de Ubatuba já ficava assustada e com muito medo das explosões das bombas. A audição dos cães é muito mais sensível que a dos seres humanos que percebem sons até 20.000 Hz. Os cachorros ouvem sons de alta frequência e de baixo volume, de 10 a 40.000 Hz e se estiverem próximos dos fogos podem ficar com a audição comprometida, pois há possibilidade de haverem rupturas ou laceração nos tímpanos. Ocorrem casos extremos em que os cães vêm a óbito. Foi o que aconteceu com ela diante de seu coraçãozinho não ser tão forte, de estar um pouco acima do peso e já contar com 11 anos de idade; em consequência do estresse desta situação de medo teve um infarto e não resistiu. As bombas explodiram no vizinho e o barulho foi ensurdecedor. Detonações estas prejudiciais a todos os seres vivos, pois além de perturbarem a audição, após o lançamento do explosivo elas carregam na fumaça e poeira metais pesados compostos de enxofre, carvão e de outros produtos químicos extremamente nocivos à saúde, como o estrôncio e o bário, perigosos, radioativos e venenosos. Por que alguém se encanta em comemorar fazendo uso de algo tão pernicioso? Existe o risco até de explodirem com a própria pessoa. É sabido que um entre dez indivíduos que os manipulam têm seus membros amputados. Nem as empresas recicláveis aceitam o material das bombas com o receio de algum resquício que possa estourar e tudo é jogado na Natureza. Seres humanos conscientes desses malefícios tornam-se inclusive membros no Facebook do grupo aberto ABAIXO FOGOS DE ARTIFICIO, fundado por José Luís Soares e do FOGOS E ROJÕES NEM PENSAR e também colocam suas assinaturas nas petições elaboradas contra esse horror. Dandara tornou-se mais uma das inúmeras vítimas deste material tão danoso, no último dia 06 de Junho, pela manhã. Era uma cachorra muito dengosa e simpática. Foi resgatada das ruas da cidade pela APAUBA – Associação Protetora dos Animais de Ubatuba e em razão do canil da ONG estar lotado, como era de costume foi levada para o sítio onde eu residia. Lá recebeu os cuidados merecidos, foi vacinada e castrada: recuperou-se dos maus tratos que todo bicho abandonado sofre e permaneceu até encontrar alguém interessado na sua adoção. Esta alegre peluda tinha a idade aproximada de dois anos no momento em que encontrou seu verdadeiro Lar e ao longo do tempo conviveu com o Bob e depois com o Max, dois outros cães que também haviam sido adotados por Tiana e sua família. Os amigos sempre estavam interessados em ouvir as histórias que relatavam as peripécias destes três cachorros e dos dengos e mimos que recebiam, pois o carinho com que Tiana falava deles era contagiante. Não fossem os fogos de artifício com certeza Dandara ainda viveria muitos anos. Tão bom se fossem proibidas estas bombas que só nos trazem prejuízos e tristezas. Com a existência delas perdemos nós, perdem os bichos e perde a Natureza que a cada detonação fica mais poluída. Dandara foi muito amada e estará presente nos corações de quem a conheceu, porém estará mais presente ainda nos corações de quem com ela conviveu e entendeu a pureza de sua alma. Muita Paz para você, querida Dandara.
Nota do Editor: Evely Reyes Prado, reyesevely@yahoo.com.br, paulistana, formada em Direito pela PUC-SP, morou em Ubatuba por vinte anos, onde aposentou-se pelo Tribunal de Justiça - SP e foi integrante da APAUBA - Associação Protetora dos Animais de Ubatuba. É autora de contos em Antologias diversas, e dos livros “Tudo Tem Seu Tempo Certo” e “Do Um ao Treze”, encontrados através do site www.scortecci.com.br.
|