Em um dia de setembro, pela rua D. Maria Alves, avistei quatro cães, deitados na calçada de um estabelecimento comercial, nas proximidades do cruzamento comva rua Cunhambebe. Solicitei informações a respeito, junto a um empregado da loja e soube que foram abandonados, após o casal, em situação de rua, que acompanhavam, ter sido detido por prática de crime. Por perto, havia papelão para deitarem e vasilhas com água, mas a expressão dos animais era de tristeza profunda, como se tivessem conhecimento do que tinha ocorrido e percebessem que a partir de então, estavam ao Deus-dará. Transitavam de um lado para o outro da rua e podiam ser vistos no Posto de Gasolina, sendo acarinhados por um rapaz, de nome Pedro, a quem passaram a seguir, em virtude da atenção que recebiam. Nestas ocasiões, iam atrás dele e permaneciam todos à porta de sua casa, apesar do mesmo não ter condição nenhuma de cuidar daqueles seres, tão indefesos e solitários como ele. Alguns dos cães, com o passar dos dias, começaram a apresentar ferimentos, em razão de brigas e pela própria circunstância precária em que se encontravam. Sem as providências necessárias, por parte dos órgãos públicos responsáveis, o clamor da internet levou as protetoras voluntárias da ONG Alma Vira-Lata, com grande competência e organização, a providenciar o resgate dos quatro cães machos, e em seguida, da fêmea, que segundo consta, era da mesma matilha e foi encontrada nas imediações. O resultado pretendido realizou-se e trouxe muita alegria às protagonistas, apesar dos percalços que episódios desta natureza desencadeiam. Cães acostumados soltos apresentam resistência, no momento de serem retirados da área que tem o hábito de ficar, e por medo, como sencientes que são, não têm compreensão do bem que lhes vai suceder. Lotado o abrigo da ONG, a solução adotada foi o lar temporário para todos, com direito a banhos, alimentação e cuidados básicos. Após consulta veterinária, os que ainda não estavam castrados, foram esterilizados pela clínica conveniada com a Prefeitura Municipal de Ubatuba. As protetoras revezam-se nos carinhos e na manutenção dos resgatados com a disciplina e dedicação, que o voluntariado exige de quem se candidata a esta árdua e ao mesmo tempo, gratificante missão. Vanessa, Valéria, Claudia Helena, Cássia, Priscila e sua irmã Vanessa são as cinco protagonistas heroínas da história, responsáveis pela transformação ocasionada na vida destes cinco seres indefesos. Merecem aplausos e reconhecimento. Vale dizer, que a ONG Alma Vira-Lata, de Ubatuba-SP, está com 137 cãezinhos, no abrigo e em lares temporários, dos quais, 72 adultos, 14 idosos e 37 filhotes. Os gastos, apenas com ração, giram em torno de R$ 7.500,00 mensais. Óbvio que necessitam de ajuda, com doação de ração, PIX de qualquer valor pelo CNPJ 15.471.624/0001-64-CNPJ ou apadrinhamento de um cãozinho, por apenas R$ 30,00. Os cinco que estavam abandonados, à Rua Maria Alves, já estão disponíveis para adoção, pela ONG Alma Vira-Lata, pois a permanência no lar temporário não pode continuar. Saudáveis, afetuosos e alegres, eles aguardam, ansiosos, por uma família ou alguém que tenha amor e saiba valorizar a companhia fiel e carinhosa que podem oferecer. Leitor interessado, faça contato coma Instituição e habilite-se a levar um deles. Com certeza, vai ser conquistado por um amigo, para a vida inteira. "Os cães são o nosso elo com o paraíso. Eles não conhecem a maldade, a inveja ou o descontentamento. Sentar-se com um cão ao pé de uma colina numa linda tarde é voltar ao Éden onde ficar sem fazer nada não era tédio, era paz.” (Milan Kundera)
Nota do Editor: Evely Reyes Prado, reyesevely@yahoo.com.br, paulistana, formada em Direito pela PUC-SP, morou em Ubatuba por vinte anos, onde aposentou-se pelo Tribunal de Justiça - SP e foi integrante da APAUBA - Associação Protetora dos Animais de Ubatuba. É autora de contos em Antologias diversas, e dos livros “Tudo Tem Seu Tempo Certo” e “Do Um ao Treze”, encontrados através do site www.scortecci.com.br.
|