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COLUNISTA
Evely Reyes
13/10/2022 - 06h09
Quem são Neguinho e Foquinha...
 
 
Arquivo ER 

Difícil encontrar um município brasileiro que não tenha animais em situação de rua. Aliado ao desempenho dos órgãos públicos, que por inúmeros motivos não consegue ser plenamente satisfatório, há a ausência de conscientização, por parte da população, que não assume a responsabilidade que lhe cabe, seja por dificuldades financeiras, falta de empatia, questões culturais ou pela dedicação que não se quer proporcionar.

Assim, o abandono de cães e gatos acontece, estejam doentes ou sadios. Tal qual objeto que não mais se deseja, são descartadas as fêmeas prenhas, os filhotes de crias indesejadas, os idosos que não têm a mesma graça de antes e até os de raça pura.

Muitos não conseguem sobreviver, pela dureza que o dia a dia lhes impõe, expostos ao sol e chuva, desabrigados, com fome e sede, sujeitos a todo tipo de intempérie, bem como, ao mau humor e maldade de seres desumanos, que os maltratam ou decidem pelo seu extermínio.

Alguns, dos que conseguem escapar da morte, são resgatados por ONGs ou protetores independentes, para oportunas adoções e outros, tornam-se animais de comunidade. Estes últimos, a partir de então, são cuidados e mantidos por várias pessoas, que se cotizam nas despesas e encargos, em razão dos laços de afetividade e dependência.

Como exemplo bem-sucedido, podemos contar as histórias do Neguinho e da Foquinha, que começaram em momentos diferentes, na cidade de Ubatuba. Ele foi abandonado no Pronto Atendimento, da Unidade de Saúde da Maranduba, há mais ou menos 12 anos e tão logo isso ocorreu, encontrou sua primeira namorada, a Lulu.

Ele foi adotado por uma médica e ela por uma enfermeira, que à época, lá prestavam serviço. Contudo, Neguinho não se adaptou em seu novo lar e entrou em depressão, porque gostava do ambiente movimentado de antes, com o carinho frequente dos funcionários do órgão público. Em razão disso, retornou à parte externa do PA Maranduba, e na sequência, conheceu sua segunda namorada, que surgiu nas imediações, para transformar a vida deles e a de muita gente.

Foquinha e Neguinho apaixonaram-se e desde então, sempre estão juntos. Com a precaução de costume, macho e fêmea foram esterilizados, por intermédio da protetora Salete, muito conhecida no município e principalmente na região da Maranduba, pelo seu voluntariado na causa animal.

Desde então, os dois animais têm suas vacinas em dia (conforme as respectivas carteirinhas), são vermifugados nos períodos agendados, bem como, são medicados com antipulgas e carrapaticidas e não lhes falta água limpa e nem ração.

Permanecem numa área coberta, destinada à entrada dos funcionários, e alojam-se debaixo de dois bancos de madeira, que ali existem. A enfermeira Margarete mantém limpos e higienizados os cobertores, utilizados como camas, bem como providencia os banhos mensais do querido casal canino.

Por serem muito bem tratados pelos seus diversos tutores, Neguinho e Foquinha são felizes e como verdadeiros cães terapeutas, retribuem todo carinho e amizade que recebem, em um espaço, onde não se vai a passeio, e sim, por necessidade.

Considerados comunitários, são reconhecidos e amparados pela Lei Estadual nº 12.916, de 16/04/2008, bem como pela Lei Municipal nº 4081 de 30/07/2018, que permite e autoriza sejam colocados dormitórios, comedouros e bebedouros para os animais de rua no município de Ubatuba, desde que sob a responsabilidade da comunidade, instituições públicas ou privadas ou por pessoas físicas comprometidas com a causa animal.

Se houver um pouco de empatia, é possível compreender que cães e gatos, abandonados em situação de rua, são vítimas de atitudes irresponsáveis, de quem os jogou lá, e sofrem, com medo, ansiedade, agonia e tristeza.

São seres sencientes, pela capacidade de ter sensações e sentimentos de modo consciente, conforme reconhecimento científico sobre tal conceito, que nos remete a profundas implicações éticas, diante do comportamento que a humanidade possui, em relação a eles.

Se os leitores ficaram sensibilizados, ao tomarem conhecimento de como Neguinho e Foquinha são bem tratados, declarem-se, talvez mais pessoas exteriorizem a compaixão adormecida.

Agradecimentos à secretária adjunta, Tatiana Mansur dos Santos, e ao gerente do PA Maranduba, Rafael Rolin, por permitirem que esta história seja baseada em fatos.

Por último, nossa imensa gratidão a todos os responsáveis diretos, que adotaram Neguinho e Foquinha, que neste momento, recebem nossos cumprimentos, em nome da enfermeira Margarete e da voluntária Salete, que acompanha a duplinha e dá o suporte preciso.

“As boas ações ficam para quem as pratica”.


Nota do Editor: Evely Reyes Prado, reyesevely@yahoo.com.br, paulistana, formada em Direito pela PUC-SP, morou em Ubatuba por vinte anos, onde aposentou-se pelo Tribunal de Justiça - SP e foi integrante da APAUBA - Associação Protetora dos Animais de Ubatuba. É autora de contos em Antologias diversas, e dos livros “Tudo Tem Seu Tempo Certo” e “Do Um ao Treze”, encontrados através do site www.scortecci.com.br.
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