Eu não te odeio porque sinto a tua falta. Nem porque tudo ainda está em carne viva dentro de mim. Eu não te odeio por sentir falta dos teus beijos, abraços e sussurros ao “pé do ouvido”. Ou por não ter ninguém para morder a minha orelha e chupar o meu pescoço. Nem porque os dias de vento me fazem lembrar você. Nem pela falta de ouvir você reclamar do frio pela milésima vez e do seu pé gelado embaixo do edredom. Eu não te odeio porque toda vez que sinto o teu perfume o meu coração dispara e eu te procuro mesmo estando em meio a uma multidão. Nem porque todas as histórias que eu vou contar incluem você. Nem porque olho para as outras e instintivamente as comparo contigo. Eu não te odeio porque fico encaixando as letras de música a nossa história. Nem porque me falta companhia para tomar um vinho. Ou por não ter ninguém para brigar quando a tampa do ketchup é esquecida aberta. Ou pela toalha molhada em cima da cama. Nem pela falta de ouvir a tua risada fácil. Ou por você dramatizar tudo quando lhe é conveniente. Eu não te odeio porque o nosso íntimo vocabulário não faz mais sentido, nem porque ninguém me chama mais pelo meu apelido secreto. Nem pela falta das tuas recomendações, reclamações e implicâncias. Ou das cenas de ciúmes. Ou ainda pela tua falta de habilidade para andar de salto alto. Eu não te odeio pelo teu jeito esquecido e estabanado de viver. Ou pelas horas que perdi te esperando escolher uma roupa e se maquiar. Eu não te odeio porque deixei de virar herói ao matar uma barata. Nem pelo dinheiro que gastei com presentes e restaurantes. Eu não te odeio porque não tenho a quem dizer que amo. Eu não te odeio por nada disso. Eu te odeio porque não consigo tirar tudo isso de dentro de mim!