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COLUNISTA
Rodrigo Ramazzini
07/04/2014 - 15h10
Lembranças
 
 

Um dia depois de uma festa regada a uísque em um Pub. Três amigos visitam Caio em sua casa para saber do seu estado depois da bebedeira da noite anterior. Logicamente, em meio à conversa, surgiu o momento “lembranças” da festa.

– Estou preparado. Podem contar tudo que eu fiz...
– Mesmo?
– Mesmo...
– Mesmo mesmo?
– Mesmo... Estás me assustando... Muita merda?
– É... Digamos...
– Contem... Eu vou resistir!
– Então, te acomoda aí na cadeira que a história vai longe... Bom! Por onde começamos? – Ai meu Deus!
– Quer que conte ou não?
– Quero! Segue...
– O que tu te lembras?
– De nada. Ou melhor, quase nada... Lembro–me da gente entrando na festa e depois eu batendo com o carro aqui nas grades de casa na volta... Entre esse intervalo de tempo não recordo de mais nada...
– Sei... Caio... Não sei nem por onde eu começo!
– Conta fora de ordem mesmo!
– Depois que tu tomaste duzentas doses de uísque... Ah! Lembra que tu competiste com um mexicano doido que estava lá fazendo “vira” no balcão para ver quem tomava mais doses?
– Não!
– Pois é...
– Ganhei?
– Ganhou, sim... Aliás, quase ganhaste foi uma um tunda... Tu te meteste com uns “fortinhos” lá... Os caras eram uns “armários”, pareciam lutadores de MMA, e tu dizias na cara deles com o dedo erguido: “esses aí não aguentam um soco meu”...
– Aposto que eles correm?
– Quem correu foi tu... Aliás... Correu de cueca, lembra?
– Não! Sério que eu fiz isso?
– Sério... Correu de cueca e os seguranças atrás de ti!
– Meu Deus!
– Só não te tiraram da festa porque nós argumentamos muito quando te pegaram...
– Lembra–se disso, Caio?
– Não!
– Ah! Teve antes o lance do palco...
– Palco?
– É... Tu subiste no palco...
– Meu Deus! Sério?
– Subiste no palco... Abraçaste o vocalista... Cantaste com ele... Daí, veio à primeira cagada...
– Ai...
– Tu foste cumprimentar o baterista e caiu por cima da bateria...
– Vocês estão de sacanagem comigo?
– Sério!
– Vocês estão inventando isso?
– Estás duvidando, Caio? Eu não vou falar mais nada...
– Eu também não...
– Nem eu...
– Putz! Está bem... Eu acredito! Não tenho escolha mesmo... Como eu não me lembro de nada disso?
– Uísque... Uísque... E mais uísque...
– Tá! Mas, qual a segunda cagada em cima do palco?
– Depois dessa cena da bateria... Como posso dizer... Tu achaste que era um popstar...
– E me joguei na plateia. Isso?
– Exatamente!
– Meu Deus! Abriram e eu caí no chão?
– Não!
– Não?
– Não... A galera te segurou... Mas tenho a impressão que deixaste de ser virgem...
– Meu Deus do céu! Chega! Não quero saber mais nada...
– Mesmo?
– Mesmo...
– Nem a parte do banheiro, em que vomitaste todo?
– Não!
– Da simulação de um ato sexual com o Pónei da decoração da parte de fora do Pub?
– Não!
– Acho que isso tem foto, hein?
– Não quero ver...
– E da parte da mulherada?
– Opa! Sabia que tinha uma parte boa nesta história... Conta era gata?
– Primeiro é preciso dizer que tu xavecaste praticamente todas as mulheres da festa...
– Até aí tudo bem! Tudo bem! Quero saber quem eu peguei?
– Bom! Depois dessa incursão pelo mundo feminino da festa, finalmente, tu encontraste uma morena...
– Sabia! Eu amo as morenas! E era gata?
– Dançou, abraçou, deu beijo na boca e circulou de mãos dadas e tal... Fez tudo que tinha direito!
– Sério? E era gata?
– Até era...
– Não senti firmeza nesta resposta...
– É que tem um problema...
– Ai meu Deus! O quê?
– Velho...
– É o que estou pensando?
– É...
– Eu não acredito!
– Pode acreditar... Era um travesti!
– Que cagada, velho!


Quinze minutos depois o trio de amigos deixou a casa de Caio.

– Vocês acreditaram na promessa do Caio de parar de beber?
– Sei lá!
– Todo mundo promete isso depois de um porre...
– Pois é... Mas, tomara! Pelo menos um “susto” agora ele levou. Pode ser que acalme ou pelo menos uma folga ele vai nos dar... Eu não aguento mais carregar ele bêbado em festas... Acabo nem curtindo... Sempre a mesma coisa!
– Eu também não aguento!
– Nem eu! 
– Mal sabe ele é que passou o tempo todo dormindo em um sofá no Pub! Há! Há! Há!
– Há! Há! Há!
– Há! Há! Há!
– Será que ele acreditou na nossa história? Será que não inventamos muita coisa? Ficou muito fantasiosa?
– Acreditou sim! Mas vamos admitir: ficou um roteiro do filme “Se beber, não case”, né?
– Pois é... Também acho que acreditou! Só achei a parte, apesar de engraçada, meio forçado o lance do travesti... Aí pode ser que ele desconfie!
– Sério?
– Arãn!
– Eu acho que não! A gente falou tanta coisa que duvido que ele duvide ou lembre–se de algo! O que vai acontecer é que nos próximos dias não vamos vê–lo na rua. Vai ficar escondido em casa com vergonha!
– Isso é verdade! Há! Há! Há!
– Há! Há! Há!
– Há! Há! Há!


Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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