– Alguém tem um pen drive para emprestar? Por favor, é urgente! Não posso perder estes arquivos... O pedido desesperado do Rondinelli para o restante da equipe demonstrava o caos em que o Departamento de Cobranças da empresa encontrava–se naquela manhã de segunda–feira. Um vírus infectou parte da rede local de computadores e estava apagando sistematicamente os arquivos. Como não atingiu todos, a orientação do pessoal de Tecnologia da Informação (TI) era para que, se possível, se salvasse a maior quantidade de material dos computadores não infectados, pois apesar do problema estar aparentemente controlado, não se sabia ao certo a extensão dos danos causados no servidor da empresa, bem como se o vírus estava totalmente desativado na rede. O “norte” dado pela TI foi mal interpretado no Departamento de Cobranças, que entendeu que era para salvar todos os arquivos indiscriminadamente, o que provocou uma correia desenfreada no local. – Pen drive! Quem tem um para emprestar?, repetiu Rondinelli. Em meio à confusão ninguém atendeu ao pedido. – Preciso de um pen drive! Quem tem um para emprestar?, reforçou. Novamente ninguém respondeu. Então, Rondinelli passou para as abordagens diretas. – Tens um pen drive, Márcia? – Não tenho! – Rubens? – Estou usando. Só um pouquinho... – Marta! Pelo amor de Deus, um pen drive? – Não. – Jean? – Também não! – Droga! Vou acabar perdendo tudo. Débora? – Não. – Ezequiel? – Não. Rondinelli já estava entrando em aflição completa quando, o Sílvio, do setor comercial, apelidado de “inspetor bugiganga”, por ter todas as coisas possíveis e imagináveis à mão, entrou na sala do Departamento de Cobranças. Foi a salvação de Rondinelli. – Sílvio, meu amigo! Tens um pen drive para emprestar? Prontamente, honrando o apelido, ele puxou de uma mochila o objeto e fez o empréstimo. Enquanto Rondinelli tentava salvar os arquivos do seu computador no pen drive, Sílvio conversava com uma funcionária do Departamento sobre um problema. Eis que surgiu o impasse: – Sílvio! Sílvio! Um probleminha... – Fala, Rondinelli! – Estourou a capacidade do teu pen drive e não salvei todos os meus arquivos. Tem alguma coisa que eu possa apagar dele que não vá te atrapalhar? No impulso e falando sem pensar, Sílvio lascou em alto tom como resposta: – Pode apagar qualquer pasta desse pen drive. Menos a que diz “Brasileirinhas (*)”... A sentença de Sílvio transformou o departamento do tumulto ao silêncio em um segundo. Todos paralisaram e olharam para o homem conhecido pelo jeito quieto e introspectivo, que acabara de se revelar um apreciador de vídeos pornográficos. Silêncio. Sílvio sentiu que estava sendo julgado e condenado. Ele e Rondinelli cruzaram olhares. Então, com a desenvoltura de um grande malandro em uma situação embaraçosa, sem se constranger com o observar recriminatório, apaziguou o Departamento, em meio a gargalhadas: – Estou brincando pessoal! Há! Há! Há! Não tem pasta “Brasileirinhas” nenhuma. Vocês não acham que eu gosto de filmes pornôs, né? Há! Há! Há! Pode apagar qualquer coisa desse pen drive, Rondinelli! Vai firme! Todos riram e continuaram a salvar os seus arquivos. Minutos depois um Técnico de Informática ingressou no Departamento informando que não havia mais necessidade de salvar os arquivos, pois o problema estava solucionado e o vírus não afetara a rede. Com a informação, Rondinelli se aproximou de Sílvio para devolver o pen drive e, então, cochichou–lhe ao ouvido: – Fica tranquilo! Não apaguei a pasta Brasileirinhas! Me deve esta mão! Quero ver estes vídeos depois, hein? E apertando as mãos, em meio a sorrisos irônicos, Sílvio respondeu: – Pode deixar! Mas, vou fazer mais. Vou te conseguir um “lote” melhor! (*) Famosa produtora de vídeos pornográficos
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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