Em meio à viagem em um ônibus lotado, Bruno resolveu fazer uma ligação, que surpreendentemente estava ruim, tendo assim que falar em um tom audível aos demais passageiros, que instigados pela curiosidade ficaram em silêncio para ouvir a conversa. - Alô! - ... - É a Scheila? - ... - É o Bruno. Tudo bem? - ... - Tudo bem comigo também! Estou te ligando para marcar um horário. É possível? - ... - Hoje. É possível ainda? - ... - Só neste horário? Antes não tem como? - ... - Ah! Já tem outros clientes marcados. Entendo... Entendo... - ... - Claro! Claro! Entendo... Deixei para ligar em cima da hora também. Mas, eu vou querer assim mesmo. Eu espero tu atender os outros! Ok? - ... -Sim, claro! Como nas vezes anteriores: barba, cabelo e bigode, como se diz! Há! Há! Há! - ... -Perfeito! Daqui a pouco eu estou chegando aí. Continua o mesmo preço? - ... - Putz! Tudo isso? Subiu? - ... - Bah! Queria ganhar dinheiro que nem tu pela hora trabalhada. Aliás, não fico nem uma hora aí... - ... - Eu sei! Eu sei! Sei que tu és profissional e só está acompanhando o mercado... - ... - Certo! Então, está combinado! - ... - Até daqui a pouco... - ... - Tchau! Bruno desligou o celular sob os olhares carregados de julgamento dos demais passageiros. Mais dez minutos de viagem e ele desembarcou do coletivo em frente a uma grande e conhecida galeria comercial da cidade, que abrigava de banca de cachorro quente a quartos utilizados para a prostituição. Assim que ele deixou o ônibus, todos os seguiram com olhos de águia até vê-lo entrar na galeria. Então, iniciaram os pensamentos e comentários: “que absurdo!”, “não se tem mais respeito por nada mesmo!”, “em plena luz do dia, que cara de pau!”, “não tinha outro lugar para o cara marcar esse tipo de coisa?”, “que sem-vergonha!”, “aposto que deixou a mulher em casa para andar com essas vagabundas”, e por aí afora... Enquanto era alvo dos passageiros do ônibus, Bruno pensava ingressando contente na galeria: “Que bom que consegui um horário para cortar o meu cabelo! A cabeleireira Scheila anda concorrida!”.
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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