Em uma mesa de bar. - Estava louco para falar contigo, Cláudio! Tenho uma história para te contar. Aconteceu: a Clarinha me colocou contra a parede? Disse ela: Eu ou o Jipe. Escolhe? - Capaz, Arthur! Tinha te avisado... - Pois é... Foi em meio a uma discussão quando eu disse para ela que estava indo fazer uma trilha e tal... Ela enlouqueceu, brigou comigo... - E aí? - Aí que a baixinha me prensou na parede e eu pensei: e agora? - Pois é... Que situação! - Tu sabes como eu sou apaixonado pelo meu Jipe, comprei e o reformei todo... Amo fazer trilha e tal... - É verdade! - Pô! Por outro lado, a Clarinha é a mulher da minha vida, Cláudio! - Bah! Que situação! O que fizeste? - Bom! Estou eu ali em meio ao fogo cruzado me perguntando “o que eu faço? O que eu faço?” Então, me veio uma luz... - O quê? - Disse para ela: vou te responder em 24 horas! - E ela? - Ficou furiosa! Fez um escândalo... - Só imagino! Mas, aceitou? - Arãn! Esse foi o erro dela! - Por quê? - Me deu tempo para pensar em uma saída! - Isso sim! E aí? - Aí que eu peguei o carro e fui lá para o sítio do pai pensar em uma alternativa para manter tudo como estava... - E achou? - Achei! Eu acho que devo ter feito à mesma cara do ator do filme O banheiro do Papa quando teve a ideia do banheiro... - Hum! - Já viste o filme? - Não! Como é a cara? - ... - Há! Há! Há! Boa! - Pois é... Devo ter feito igual. Tive a ideia, articulei a sua execução e voltei para casa... - Já estou imaginando aqui a tua saída genial. Ficou com o Jipe e colou um adesivo no carro “Ela disse: eu ou o Jipe? Tenho saudades dela...”? - Há! Há! Há! Não! Não! Voltei para casa e a esperei chegar do trabalho. Quando ela entrou na porta alcancei a chave do Jipe e disse: “Toma! É teu!”. - Enlouqueceste, homem? - Não! Não! - E ela? Foi vender na hora o Jipe? - Aí que está! Cogitei que essa poderia ser a primeira reação... - E? - Coloquei, digamos assim, uma cláusula nesta doação. Ela poderia fazer o que quisesse com o Jipe, porém ela, e só ela, frisei bem isso, teria que buscá-lo... - Onde estava o Jipe? - Eu tinha largado antes em uma trilha lá na fazenda de um amigo... - Hum! Acho que captei a ideia: a intenção seria “seduzi-la” ao mundo do Jipe depois de experimentar guiar por uma trilha? - Falar com gente inteligente é outra coisa! Bingo! Ela nunca tinha participado de uma trilha, sentido a sensação... - Correste o risco de ela deixar o Jipe lá eternamente, não? - Precisava correr o risco! Mas, tinha certeza que buscaria... - Hum! E o que ela fez? - Foi buscar o Jipe, ora! - Pela tua cara de alegria o plano funcionou perfeitamente? - Pior que não! Quer dizer, mais ou menos... - Como assim? - Sem falar comigo, ela pegou a chave e fomos buscar o Jipe... - Braba? - Não! Não! Diria quieta por estar tentando compreender a situação... - Hum! - Chegamos lá! Ela embarcou no Jipe, ligou, acelerou, passou por um banhado, subiu um morrinho, então puder ver um leve sorriso em seu rosto... - E tu correste para galera? Soltaste uns foguetes para comemorar o êxito do plano? - Pois é... Quando eu pensei em fazer isso, não é que a Clarinha me caiu com o Jipe em uma vala? - Capaz! Ela se machucou? - Não! Não! Graças a Deus! Aliás, tenho certeza que foi ele que provocou o acidente... - Ué! Por quê? - Porque apesar de a Clarinha estar se divertido, ela venderia o Jipe, mas com o acidente brotou um sentimento de remorso nesta mulher. Um remorso! Que tu nem imaginas... - Capaz? - Estou te falando! Disse chorando depois do acidente que eu tinha provado que amava ela dando-lhe o Jipe... Que fazer trilha também era a minha paixão e que ela não poderia interferir nisto e tal... Meia hora de desabafo... - Caiu a ficha? - Arãn! - E o Jipe? - Me devolveu... - Estragou muito? - Bastante! Mas, isso não importa. Importante é que o tenho de volta. E melhor, com a Clarinha junto. O Jipe está na oficina. Fica pronto na semana que vem. Já tenho até uma trilha agendada com o pessoal... - E a Clarinha. O que diz? - Disse que vai junto! - Há! Há! Há! Se deu bem, hein? - Por linhas tortas, mas sim! Há! Há! Há! - Há! Há! Há! Um brinde! - Um brinde! E os dois tocam os copos e seguem falando e rindo sobre o assunto...
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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