O casal de namorados está deitado no sofá serenamente assistindo televisão em um dia chuvoso, quando... - Amor? - Hum! - Quer? - O quê? - Bala. É a última... Quer? - Não sei. Qual sabor é esta? - Menta. - Não sei se quero... - Decide... - Não gosto muito de menta... - Tá... - Tá o quê? - Agora é tarde! Comi... - Eu não acredito! - Ué! Tu disseste que não queria... - Eu não disse nada! - Claro que disse! - Eu disse apenas que não gostava muito de menta... - Então... - Isso não quer dizer que não queria a bala. - Ah para! - Para nada! Eu não sei por que depois de tantos anos eu ainda me surpreendo com o teu egoísmo. Não sei mesmo! - Eu? Egoísta? Eu te ofereci a bala antes de comer. - Muito egoísta! Muito! - Eu não acredito que estás fazendo isso por causa de uma bala. Não acredito mesmo... - Hoje é uma bala. Amanhã é outra coisa e assim por diante... - Lição de moral, não! Por favor... - Não é lição de moral! É a realidade... Olha... Sinceramente... Eu não sei se eu quero isso para minha vida! Não sei mesmo... - Isso o quê? - Viver com alguém tão egoísta. Eu penso que morar com alguém é dividir, compartilhar as coisas... Como vai ser depois que casarmos, hein? - Meu Deus do céu! Tudo isso é por causa de uma bala? Toma então... Nem está muito babada! - Que nojo! Agora, eu não quero! - Bom! Eu ofereci... - É isso que eu digo... Esse teu egoísmo... Essa tua imaturidade... - Não estou entendendo todo esse drama. Por quê? - Se tu achas que é drama... - Estás de TPM? - Faz diferença? - Responde... - Pode ser... - Está explicado, então... - Está explicado o quê? - Nada! Nada... - Sei... - Tu vais ficar com esses beiços para o meu lado? - O que tu achas? - Eu não acredito! Por causa de uma bala? Uma bala? - Não é só por causa da bala. Já te expliquei... - Eu não acredito que a gente vai brigar por causa de uma bala. Vamos? Responde? - Não é por isso. Já falei! - É capaz dessa bala até me fazer mal! Vou até colocar fora... - Estás insinuando que eu te desejo mal? É isso? - Ai meu Deus do céu! Quer complicar, né? Quer brigar mesmo? - Não! Só perguntei... Perguntar não ofende. Ofende? - Eu não quero brigar contigo! - Mas, estás levando a isso... Silêncio. - Vais ficar assim? - Assim como? - Assim... Emburrada? - Não estou emburrada. Estou triste. Fico imaginando se eu estivesse grávida... - Tu estás grávida? - Não! Mas, imagina se eu tivesse? Teu filho iria nascer com cara de bala de menta... - Para! Para! - Estou falando sério. - Vais fazer eu me sentir culpado assim... - É bom! Assim, tu pensas melhor nas tuas atitudes antes de agir... Silêncio. - O que eu posso fazer para me redimir? - Hum... Não sei... - Diz? Eu faço tudo que quiseres... - Deixa eu pensar... - Carinhos? Beijos? Abraço? - Não. - Não? Ela faz uma cara de “tá bom, vamos lá”, respira fundo e parte para o pedido. - Quero um beijinho, uma massagem nas costas e um brigadeiro da padaria da esquina! O doce primeiro... - Estou indo na padaria. Já volto, amor! Então, assim que o namorado sai, ela estica-se e deita-se confortavelmente no sofá, troca do canal de futebol na televisão e abre um pequeno sorriso de satisfação. Missão cumprida.
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
|